O Caso Menendez — Parte 02: O crime perfeito vs. a investigação

 




Com os irmãos Menendez fora do radar, os investigadores da polícia, Tom Linehan e Les Zoeller, não sabiam exatamente para onde correr, pois não tinham nenhuma evidência sobre o crime. Eles nunca encontraram as armas, nem mesmo as cápsulas dos projéteis que mataram Kitty e Jose. Eles só contavam com o que haviam encontrado na cena do crime. O modo como o casal foi assassinado, assim como os resultados da necropsia, mostravam que quem atacou os Menendez  naquela noite tinha muito ódio. Segundo o livro Blood Brothers, escrito por dois jornalistas que trabalhavam no jornal Los Angeles Times na época dos crimes, a família tinha dois cachorros. Um deles, Randy, nutria um amor incondicional por sua dona, Kitty. Nenhum estranho conseguia se aproximar dela na presença do animal. Como nenhum dos cães latiram alertando o casal, era evidente que as pessoas que mataram a dupla eram conhecidas. Segundo os registros do site Crime Library e do livro The Menendez Murders, os assassinos entraram na sala escura, iluminada apenas pela televisão. Jose e Kitty dormiam no sofá. Eles estavam assistindo a um filme da franquia James Bond, mas acabaram adormecendo. Ao lado de Kitty estavam os papéis de admissão de Erik na UCLA. Ela provavelmente adormeceu enquanto preenchia os documentos. Sua cabeça repousava no colo de Jose. Os assassinos entraram atirando. Os primeiros tiros atingiram Jose no cotovelo esquerdo e no braço direito. Depois de imobilizado, um dos assassinos atirou à queima-roupa na parte de trás da cabeça de Menendez. Ele morreu instantaneamente, pois seu cérebro foi eviscerado. Pela violência do impacto, os detetives encontraram massa encefálica do patriarca até no teto da cena do crime. Kitty acordou e tentou fugir de seus assassinos. O primeiro tiro acertou sua perna direita, o segundo, seu braço direito. O terceiro disparo a derrubou no tapete, já coberto por seu próprio sangue. Ela tentou se levantar, mas caiu, tombada pelo próprio fluido corporal. No chão novamente, seus algozes continuaram atirando. Mesmo gravemente ferida, ela ainda lutava contra a morte. Lyle confessou que precisou sair da cena do crime para recarregar sua espingarda, pois Kitty ainda respirava. Munido de balas para matar passarinhos, ele encostou a arma no rosto de sua mãe moribunda e deu o disparo letal. Kitty teve sua face destruída. Lyle e Erik atiraram quatro vezes no rosto da genitora. Ela foi atingida dez vezes, e muitos dos ferimentos foram produzidos à queima-roupa. Antes de falecer, ela teve tempo suficiente para ver os seus assassinos.  Quando o detetive Les Zoeller chegou na cena do crime, ele estava estarrecido. Anos mais tarde, o policial confidenciaria que essa foi a pior cena de crime que ele já havia investigado.  A sala tinha cheiro de morte, devido ao odor do sangue. 

Vários depoimentos indicam que algo sério ocorreu na casa dos Menendez nas semanas que antecederam o crime. Segundo o livro Blood Brothers, Kitty sentia que estava em perigo iminente, pois sempre trancava as portas de seu quarto, e mantinha um rifle à mão em seu closet. De acordo com seu terapeuta, Kitty mencionou que escondia segredos doentios sobre sua família. Além disso, afirmou que seus filhos eram sociopatas. Eles eram incapazes de sentir qualquer tipo de remorso. Ela chegou a essa conclusão depois que o Dr. Oziel — o terapeuta que passou a tratar Lyle e Erik após os assaltos que eles cometeram na vizinhança de Calabasas — disse que eles representavam um risco para os pais. Jose não acreditou nisso, mas Kitty levou a advertência muito a sério. Na época do crime, o jornalista da Vanity Fair, Dominic Dunne, cogitou que os segredos obscuros que Kitty se referia em conversa com seu terapeuta seria uma suposta relação incestuosa entre os dois irmãos, o que nunca foi comprovado. Esse aspecto ficcional ganhou bastante destaque na minissérie "Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story".

Lyle testemunhou em seu julgamento que nunca teve um relacionamento sexual com seu irmão. Robert Rand, que escreveu o livro definitivo de 2018 sobre o crime dos irmãos, The Menendez Murders, que é o resultado da cobertura detalhada de seu caso como repórter desde o dia seguinte aos assassinatos, disse ao The Hollywood Reporter pelo telefone neste fim de semana, descrevendo os irmãos como atletas tradicionais que não usavam drogas. Rand explicou que a representação da relação dos irmãos como possivelmente incestuosa no programa é falsa e que o programa retratou a ideia da relação que os irmãos estavam tendo, que vivia na mente daqueles ao seu redor. “Eu não acredito que Erik e Lyle Menendez tenham sido amantes. Acho que isso é uma fantasia que estava na mente de Dominick Dunne [o repórter retratado na série por Nathan Lane]”, explicou Rand. “Havia rumores durante o julgamento de que talvez houvesse algum tipo de relação estranha entre Erik e Lyle. Mas eu acredito que o único contato físico que eles poderiam ter tido é o que Lyle testemunhou, que quando Lyle tinha 8 anos, ele levou Erik para o bosque e brincou com ele com uma escova de dentes — que foi o que [seu pai] José havia feito com ele. E, portanto, eu certamente não chamaria isso de um relacionamento sexual de forma alguma. É uma resposta ao trauma.   — The Hollywood Reporter



Um dia antes do crime, Lyle teria esquecido suas chaves, o que gerou uma briga colossal entre ele e a sua mãe. Na ocasião, Kitty disse que o filho mais velho só lhe causava problemas e que estava arrependida de tê-lo colocado no mundo. Um pouco antes de sua morte, ela teria confessado a um de seus irmãos, Brian, que estava bem desapontada com o comportamento do filho mais velho. Ele tinha uma conduta criminosa e não possuía interesse em relação aos estudos. Kitty acreditava que, mesmo depois de tantos esforços feitos para criá-lo, Lyle era apenas um playboy que queria apenas se aproveitar do dinheiro da família. No mesmo período, Jose confessou ao cunhado, Carlos Baralt, que pretendia mudar seu testamento e retirar os filhos do mesmo. Jose, inclusive, nomeou Carlos como responsável pelo espólio. Após a morte do casal, Baralt tentou encontrar o novo testamento no computador da família, mas todo o conteúdo da máquina havia sido apagado por Lyle. Ele contratou uma empresa especializada que apagava os dados de computadores de tal forma que nem família e a polícia conseguiram recuperar os documentos. Os policiais só descobririam essa informação meses depois do crime. Baralt cogitou em uma ligação para Lyle que o testamento poderia estar em um cofre de Jose. Antes da chegada do tio, que morava bem longe da CalifórniaLyle cogitou contratar uma empresa para abrir o guarda-valores, mas descobriu que só poderia fazê-lo na presença de um advogado. 

Em entrevista para o especial Inside the Menendez Movement, Karen Farell, amiga de Kitty, deu mais pistas sobre o clima tenso que pairava sobre a família nas semanas que antecederam o crime. Durante uma visita à casa da família Menendez em Beverly Hills, Karen encontrou Mary Louise alterando o testamento no computador. Segundo Farell, Lyle estava ouvindo a conversa das duas, e Karen chegou a alertar que o filho mais velho de Kitty podia escutá-la. Mary respondeu que não se importava:
— "Eles sabem que eu não vou deixar nenhum dinheiro para eles."

O Crime “perfeito”


Depois de sua prisão, Erik contou o que ocorrera naquela noite fatídica. Após assassinar os pais, os irmãos teriam permanecido ainda um bom tempo dentro da casa da família. Em 1996, durante uma entrevista para a jornalista Barbara Walters, Lyle disse que os irmãos estavam esperando pela polícia, mas ela nunca apareceu. Eles decidiram, então, recolher todos os cartuchos e entraram no carro de Erik. Na versão dos irmãos, eles teriam saído pela Elm Drive, mas os investigadores acreditam que eles tenham escapado pela casa de hóspedes que fica nos fundos da propriedade, a qual possui uma garagem que dá acesso para um beco que passa por trás de várias mansões. Essa ruela dá acesso para duas avenidas paralelas a Sunset Boulevard, uma das vias principais da cidade de  Beverly Hills



No primeiro interrogatório para a polícia, os irmãos disseram que tinham ido ver License to Kill, mas como a fila estava muito grande, decidiram assistir Batman. A decisão era estratégica, pois já tinham visto o filme de Tim Burton e, caso fossem interrogados pelos policiais sobre o assunto, saberiam detalhes do longa-metragem. Como a funcionária do AMC Theaters informou que não seria possível comprar ingressos para a sessão anterior, a dupla comprou duas entradas para a sessão de Batman que estava prestes a acontecer. Erik, percebendo que os ingressos tinham o horário da exibição do filme, colocou os dois tickets no lixo. Os policiais até chegaram a questionar se eles ainda tinham os ingressos, mas Erik disse que os tinha colocado no lixo.  Eles também já tinham combinado de encontrar um amigo em um festival de comida em Santa Monica. Ele seria um álibi importante. Antes de ir ao encontro de Perry Berman, os irmãos dirigiram pela famosa Mulholland Drive, pois precisavam se livrar das espingardas primeiro. Lyle estava ao volante, já que Erik estava muito nervoso.


Às 22h30, eles chegaram ao cinema AMC no Century City Shopping Center, a uma curta distância a oeste de Beverly Hills. Havia poucas pessoas na fila. A ideia deles era comprar ingressos para uma sessão que começava antes de eles dispararem os tiros e de um filme que já haviam visto. Havia uma sessão às 20h15 de Licença para Matar, mas estava esgotada. O único outro filme que eles já tinham visto era Batman, mas já estava quase no final. A mulher atrás do balcão disse a eles que o cinema não vendia ingressos vinte minutos após o horário de início. Lyle implorou, sem sucesso. Eles compraram ingressos para a próxima sessão, esperando que não houvesse horário impresso neles. Havia. Erik jogou os ingressos fora e eles saíram. Em seguida, eles dirigiram pela Coldwater Canyon, uma estrada íngreme e acentuadamente curva que liga Beverly Hills ao Vale de San Fernando. Lyle teve dificuldades para manobrar o câmbio manual de Erik. Ele pensou que poderiam descartar as armas em algum lugar perto do topo. Lyle dirigiu para o oeste ao longo da Mulholland Drive por cerca de um quilômetro e então parou. Do lado norte, de frente para as luzes do vale, Erik desceu rapidamente e jogou as armas na vegetação. Elas rolaram várias centenas de metros. Com a adrenalina a mil, Lyle deu meia-volta com o carro. A seguir, eles tinham que se encontrar com Perry Berman no festival Taste of L.A. em Santa Monica. Em algum momento, Erik percebeu que tinha sangue em suas calças e que os bolsos estavam cheios de cartuchos de espingarda. No porta-malas do carro, Erik mantinha equipamentos de tênis e roupas extras. Eles se trocaram atrás de um posto de gasolina em Santa Monica, onde jogaram as roupas ensanguentadas e os cartuchos usados em um recipiente de lixo. “Eu não pensei realmente sobre o que tínhamos feito naquele momento”, disse Lyle mais tarde. “Eu estava apenas perdido e anestesiado, pensando sobre o que estávamos fazendo.” Erik estava em pior estado — tremendo, chorando incontrolavelmente e gritando repetidamente: “Oh, meu Deus!” — Trecho do livro The Menendez Murders.

Segundo o livro Blood Brothers, essa foi a versão oficial que foi dada para a polícia:

As reações de Erik e Lyle ao assassinato de seus pais apresentam um contraste perturbador. Erik estava visivelmente angustiado, frequentemente chorando e aparentemente tomado pelo luto. Sua instabilidade emocional fez com que Edmonds interrompesse o interrogatório após apenas vinte minutos, quando Erik desmoronou, falando de forma irracional sobre seu cachorro preto e perguntando se seus pais estavam mortos. A confirmação de Edmonds provocou ainda mais soluços de Erik. Lyle, por outro lado, permaneceu calmo e metódico, exibindo um comportamento marcadamente diferente. Ele respondeu às perguntas sem demonstrar sinais visíveis de angústia emocional, o que contrastava fortemente com o colapso de Erik. À medida que o interrogatório prosseguia, uma linha do tempo dos eventos daquele dia começou a se formar. Erik havia jogado tênis atrás da casa pela manhã, perto da casa de hóspedes onde Lyle estava morando. Mais tarde, a família se reuniu para assistir a uma partida de tênis na televisão. À tarde, os irmãos foram às compras no shopping Beverly Center e planejaram encontrar um amigo, Perry Berman, em um festival gastronômico chamado "A Taste of L.A." naquela noite. Eles saíram de casa por volta das oito, mas os planos foram interrompidos quando as filas para um filme de James Bond estavam muito longas. Em vez disso, eles assistiram a Batman em Century City. Após o filme, eles tentaram encontrar Perry no festival, mas alegaram ter se perdido no caminho e, por isso, perderam o encontro com o amigo. Eles ligaram para Perry do auditório e combinaram de se encontrar mais tarde no Cheesecake Factory. Antes desse encontro, voltaram para casa para pegar o documento de identidade de Erik, apenas para entrar em uma cena macabra—nuvens de fumaça de armas ainda pairando no ar, conforme ambos os irmãos testemunharam posteriormente. Enquanto relembrava os eventos do dia, Lyle também falou sobre o comportamento paranoico recente de sua mãe. Segundo ele, ela havia se tornado obcecada em trancar as portas e se armado, temendo por sua vida. Ele até sugeriu que ela estava à beira do suicídio há anos. Lyle especulou que a morte de seu pai estava ligada ao crime organizado, alegando que acreditava que seu pai havia sido morto por se recusar a cooperar com atividades criminosas”.
Durante o primeiro julgamento, o Dr. William Vicary, psiquiatra contratado pela defesa, relatou algo semelhante. Segundo Lyle, o pai estava envolvido em atividades criminosas, fato conhecido por ambos os irmãos, e esse seria o motivo de seus temores. A pedido da advogada de defesa, Leslie Abramson, essa informação foi omitida de suas notas finais. A descoberta desse fato só ocorreu, após Leslie ter anexado, inadvertidamente, o documento original no segundo julgamento, o que gerou uma grande controvérsia ética em torno do médico, que esteve à beira de perder sua licença profissional.

Como Lyle nunca foi uma testemunha confiável no caso, não é possível confirmar que Kitty realmente estivesse apresentando um comportamento errático em seus últimos dias, nem que tivesse comprado armas para se defender. O policiais também investigaram os negócios de Jose e nunca encontraram nenhum tipo de irregularidade. Vale lembrar que nesse período muitas produtoras audiovisuais tinham ligação com organizações criminosas. Inclusive, em um dos interrogatórios que ocorreram logo após a morte do casal, Erik apontava o dedo para um produtor de cinema controverso, Noel Bloom. O assunto ressurgiu em uma entrevista que os irmãos concederam antes de serem presos para o Los Angeles Times


Dois homens cujos nomes estavam no topo de todas as listas de suspeitos eram o magnata da gravadora Morris Levy e Noel Bloom, uma figura lendária no mundo obscuro do entretenimento adulto. Ambos tinham negócios com Menendez e eram considerados pela polícia como conectados à máfia. Levy era um milionário feito por si mesmo que possuía uma série de casas noturnas nas décadas de 1940 e 1950, antes de se tornar presidente da Roulette Records, uma gravadora bem conhecida durante o auge do rock and roll nos anos 50. Um júri de tribunal federal em Camden, Nova Jersey, condenou Levy em 1988 por conspirar para extorquir dinheiro de John LaMonte, um distribuidor de discos da área da Filadélfia. Levy foi condenado a dez anos de prisão e multado em $200.000. Documentos do FBI apresentados no caso afirmaram que as agências governamentais acreditavam que Levy estava envolvido com o crime organizado há vinte anos. De acordo com registros judiciais e autoridades policiais, Levy era associado de Vincent (The Chin) Gigante, o suposto chefe da família criminosa Genovese, um dos cinco principais grupos de crime organizado de Nova York. Levy mantinha um senso de humor sobre seus supostos vínculos com a máfia. "A única coisa que sei sobre crime organizado são minhas cinco ex-esposas", disse ele em uma entrevista em outubro de 1986 com o escritor William K. Knoedelseder, Jr. Não muito antes de sua morte, a empresa de José gastou $40,5 milhões para comprar de Levy a BeckZack Corp., que possuía a Strawberries, uma cadeia de lojas de discos com noventa lojas na Nova Inglaterra, Nova York e Filadélfia. Em alguns círculos, dizia-se que José enganou Levy, fazendo o acordo em termos altamente favoráveis porque Levy precisava de dinheiro para cobrir suas despesas legais. À medida que a especulação sobre Levy crescia na mídia após os assassinatos, a LIVE emitiu um comunicado público dizendo que o acordo da Strawberries era legítimo. "Dada a história anterior do Sr. Levy, o processo de diligência devida para a compra da Strawberries foi incomumente cuidadoso e exaustivo", dizia o comunicado da empresa. Além de questionar membros da família Menendez sobre o acordo, Zoeller procurou especialistas em crime organizado para investigar Levy. Não parecia haver muito ali. Levy e José nunca tinham se encontrado durante as negociações, e José só se envolveu diretamente, como era típico dele, no final, quando o acordo foi fechado. Insiders da empresa contestaram as alegações de que Menendez se aproveitou de Levy. Alguns disseram que ele pagou mais do que o necessário. Bloom, que possuía a empresa que eventualmente se tornaria a LIVE Entertainment, era uma figura mais colorida. Um homem magro de quarenta e sete anos, que exibia um estilo descontraído da Califórnia, desde seu uniforme de escritório de jeans e camisa polo até os cabelos longos e estilizados que repousavam em seus ombros como plumagem suave, ele era o oposto espiritual de José. Enquanto José era contido e conservador, Bloom era extravagante. Ele gostava de óculos espelhados, dirigia uma Ferrari e diz-se que tinha um tanque privado com $50.000 em peixes exóticos. Suas relações estavam tensas quase desde o dia em que José Menendez foi trazido para assumir o controle das finanças da empresa de Bloom em 1986. Eles estavam envolvidos em uma amarga batalha judicial até o dia do assassinato de José. — Trecho do livro Blood Brothers
Depois de muita investigação, ficou constatado que Bloom não tinha nada a ver com a morte do casal Menendez. Os detetives também foram atrás de possíveis informações que pudessem indicar que Jose tinha envolvimento com cartéis de droga ou com mafiosos da América Central. Os vizinhos também achavam que Menendez poderia ser um traficante por puro preconceito com o fato de que Jose era cubano. Na cabeça dos ricaços de Beverly Hills, um latino dificilmente ficaria rico fazendo negócios lícitos nos EUA. Mas basta um pequeno giro pela carreira de Jose para perceber que ele havia enriquecido por causa do seu excepcional talento para os negócios. Ele era implacável! Os policiais também investigaram um possível envolvimento de Fidel Castro nas mortes. Tudo porque os irmãos afirmaram que poderia existir uma rixa entre Jose e integrantes da família Castro. Em tom exagerado, Erik disse em depoimento que seu pai queria se tornar senador da Flórida, pois queria indexar Cuba aos Estados Unidos. A polícia perdeu muito tempo em volta dessas histórias mirabolantes enquanto os dois culpados estavam na frente dos detetives. Como disse anteriormente, a investigação só entra no encalço dos filhos de Kitty e Jose por causa de um artigo que seria publicado no jornal Los Angeles Times. Os jornalistas John Johnson e Ron Soble entrevistaram muitas pessoas próximas aos irmãos Menendez e procuraram os policiais antes de tornar pública a reportagem. Eles possuíam um grande dossiê. Até esse momento, a polícia de Beverly Hills só tinha em suas mãos os gastos dos jovens como um indicativo. Eles não conseguiam encontrar as armas do crime. Eles suspeitavam, mas isso não era suficiente para prender os irmãos Menendez preventivamente. Mas toda a situação mudaria rapidamente em breve.

Na mira da polícia

Na semana do assassinato, a Live Entertainment, empresa onde Jose trabalhava, passou a ajudar os jovens, pois estava preocupada com a segurança deles. Como Lyle estava supostamente com medo da máfia, a companhia providenciou quartos de hotéis para os jovens. Eles passaram a se hospedar em hotéis muito chiques, como o The Beverly Hills Hotel. Eles não aceitavam ficar em lugares baratos. Além disso, o filho mais velho solicitou duas limousines, uma para cada irmão. Lyle contratou seguranças, pois “temia por sua vida”. Quatro dias depois da morte dos pais, os irmãos começaram o seu frenesi de compras. Eles compraram três relógios da marca Rolex. Lyle apareceu com a peça no velório dos pais e nas fotos que foram tiradas durante a entrevista que eles concederam para um jornal local. Por causa dos gastos estratosféricos que vinham fazendo no cartão de crédito de seu pai, eles acabaram entrando na mira da polícia. Ao todo, eles gastaram mais de 700.000 dólares. Lyle comprou um Porshe. Erik comprou um Jeep. Eles fizeram diversas viagens, inclusive para o exterior. Lyle só viajava a bordo de aviões MGM Grand, serviço que era muito utilizado por empresários de sucesso. O avião era tão chique que era considerado um hotel de 5 estrelas aéreo. Isso começou a incomodar o cunhado de Jose, Carlos Baralt, responsável pelo controle do espólio. Quando ele confrontou Lyle, o jovem disse que Jose sempre se deslocava pelo país na primeira classe. Mas isso não era verdade. Menendez só viajava dessa forma quando a empresa pagava a sua passagem. As pessoas próximas percebiam que Lyle queria emular a persona de um empresário de sucesso, mesmo sem estar envolvido em nenhum tipo de negócio. Ele estava cada vez mais parecido com Jose. Depois da morte de seu pai, Lyle decidiu que não queria mais fazer faculdade. Erik também abandonou a UCLA. O caçula contratou um treinador particular caríssimo para seguir sua carreira no tênis. Ele era um ótimo jogador. Estava na 44º posição no ranking dos tenistas profissionais dos EUA. 

Depois dos assassinatos, os irmãos fizeram algumas viagens e sempre se hospedavam nos hotéis mais caros. A dupla também alugou dois apartamentos na Marina del Rey, um dos endereços mais caros da Califórnia. Eles tentaram comprar uma cobertura nesse mesmo prédio no valor de quase um milhão de dólares, mas o financiamento não fora aprovado. Inclusive, antes de se mudarem, eles continuaram vivendo na casa dos pais, fato que causou estranheza nos parentes. Erik, inclusive, costumava ter o hábito de entrar na casa na ponta dos pés como se não quisesse perturbar alguém. Maria Cano disse que a a casa tinha uma aura tão pesada que ela não conseguia dormir no recinto. Ela chamou então um padre para fazer uma missa para abençoar a mansão.

Antes de levantar suspeitas da polícia, Lyle teria quase entregado de bandeja seu segredo para os seguranças que trabalharam com ele por algum tempo. Um deles teria visto um cartucho de espingarda em uma bolsa com artigos esportivos. Os irmãos conseguiram recuperar essa munição de forma inusitada. Mesmo tendo sido barrado pelo detetive ZoellerLyle conseguiu retirar da cena do crime tudo o que poderia comprometê-los com a anuência da polícia. 

Quando ele chegou à porta da mansão, foi recebido por Zoeller, que lhe disse que não podia entrar. A cena do crime havia sido isolada, disse Zoeller. Os policiais não queriam que nada fosse alterado. Mas três horas depois, Lyle e Erik estavam de volta. Eles estavam acostumados a conseguir o que queriam, e era vital que dessem uma olhada no carro. Desta vez, eles pediram a um policial amigável do lado de fora da casa se poderiam pegar algumas coisas do veículo. "Claro, vão em frente", ele disse. Lyle encontrou mais cápsulas de balas, embalagens dos cartuchos de espingarda e outras coisas que os ligariam aos assassinatos. Enquanto a polícia de Beverly Hills ainda inspecionava a casa, Lyle, calmamente, colocou as evidências em uma bolsa de ginástica e transferiu-as para o carro de um amigo que os aguardava. — Trecho do livro Blood Brothers

Ainda segundo o livro Blood BrothersRichard Wenskoski, que trabalhou como guarda-costas de Lyle, comentou em uma certa ocasião que era fácil rastrear armas a partir da impressão digital que cada bala possui. Segundo Wenskoski, o processo era tão eficaz em rastrear armas quanto as impressões digitais são em rastrear criminosos. Lyle então questionou: "É possível obter balística de uma espingarda?"
"Não", disse Wenskoski. "Espingardas têm um cano de alma lisa." O jovem teria então dado os ombros e voltado a comer. Lyle parecia tão indiferente sobre tudo que era chamado pelos seus seguranças de homem de gelo. Ele demitiria os guarda-costas algum tempo depois. A família teria ficado preocupada, mas Menendez garantiu que já tinha resolvido tudo com a máfia. Isso causou estranheza! Os familiares também estavam refletindo sobre os gastos da dupla, mas isso foi visto como uma maneira de lidar com o luto.

Nos meses seguintes, Lyle abriu uma empresa de investimentos, a Menendez Investment. Ele chamou um grupo de esportistas de Princeton que não sabiam nada sobre o assunto, mas que o veneravam. Lyle podia ser bem persuasivo quando queria. Segundo o livro Blood Brothers, ele alugou um local, comprou a mobília para o escritório, mas a empresa nunca foi para a frente. Era notório que ele queria emular Jose, mas também outra figura que admirava muito, Joe Hunt. Hunt criou um clube de investimento na Califórnia chamado Billionaire Boys Club. Ele era jovem muito ambicioso e prometia grandes retornos financeiros por meio de investimentos arriscados. O grupo rapidamente se envolveu em atividades criminosas para manter o esquema funcionando, inclusive assassinato. Ironicamente, Hunt também cumpre atualmente prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional. Com o passar dos dias, a ideia de ter uma empresa de investimentos foi substituída rapidamente por um restaurante de asinhas de frango que ficava perto da Universidade de PrincetonLyle amava o lugar e queria transformar o negócio em uma série de franquias. 

Enquanto Lyle tentava se estabelecer em Princeton, Erik seguia a carreira como tenista. Seu humor oscilava muito. O comportamento de Erik, às vezes, revelava uma dissonância semelhante. Pouco tempo após os assassinatos, ele convidou uma antiga amiga do colégio para sair. Ela o alertou que precisaria voltar cedo. "Eu não preciso mais me preocupar com isso", ele brincou, segundo a jovem. Houve até momentos em que Erik e Lyle pareciam pensar que a morte de seus pais tinha um lado positivo. [...] "Todos os grandes homens não tinham pais", Erik teria dito a um amigo. Ele citara Adolf Hitler”. — Trecho do livro Blood Brothers

Lyle manteve essa pose de empresário de sucesso inclusive no velório dos pais. As pessoas comentavam o quanto ele tentava imitar a postura firme de Jose, que era considerado um profissional voraz, determinado, o qual conseguia tudo o que queria. Lyle deu um discurso sobre os pais na cerimônia fúnebre que deixou todos impressionados, pois conseguira falar sobre Kitty e Jose sem esboçar nenhum pingo de emoção. Naquele dia, os irmãos decidiram tocar músicas que supostamente os pais gostavam. Uma delas, que virou uma sensação por causa da série de Ryan Murphy, é o sucesso I'm Gonna Miss you. Interpretada pela dupla Milli Vanilli, a canção deixou os presentes chocados, pois não se encaixava naquele momento. 

Os policiais percebiam que os irmãos agiam com frieza em relação à morte dos pais. Eles não telefonavam para a polícia para saber detalhes sobre o crime ou acerca da investigação. Eram os detetives que tinham que telefonar para eles. Em uma das conversas com Erik, o jovem afirmou que Lyle estaria gastando todo o dinheiro deixado pelos pais, inclusive a parte destinada para ele. Na época, os jornalistas do Los Angeles Times, John Johnson e Ron Soble, já sabiam desse possível conflito entre os irmãos e estavam muito à frente das investigações da polícia. Enquanto os detetives tinham outras teorias, algumas bem mirabolantes, Soble e Johnson começaram a investigar os dois irmãos depois de descobrirem que eles vinham fazendo compras exorbitantes. O comportamento dos jovens também era muito inconsistente após os assassinatos. Logo, imaginaram que eles poderiam estar envolvidos no crime. A dupla de periodistas entrevistaram várias pessoas do círculo dos Menendez e conseguiram levantar algumas evidências de que os irmãos poderiam ter envolvimento nas mortes, e essa foi a primeira grande reviravolta do caso. Eles chegaram a entrevistar Lyle e Erik na mansão onde ocorreu o crime e tudo foi muito estranho. 
A entrevista tinha chegado ao fim. Depois de apertar as mãos dos dois irmãos, Soble e Johnson saíram para o sol e ficaram na rua por um momento, sentindo-se desconfortáveis. Johnson encostou-se em seu carro. Finalmente, Soble expressou o pensamento que estava na mente de ambos durante a estranha e rígida conversa de negócios. "Eles fizeram isso", disse ele.  — Trecho do livro Blood Brothers
Antes da matéria ser impressa, o detetive Zoeller foi conversar com Erik, dizendo que os jornalistas do Los Angeles Times desconfiavam deles. Além disso, eles não estavam cooperando com a polícia. Erik não esboçou nenhuma reação, mas perguntou ao policial quais eram as questões que precisavam ser respondidas. 

Que perguntas você tem?", perguntou Erik. Zoeller mencionou o testamento que Lyle apagou. Erik disse que também estava chateado porque ele tinha um especialista pronto para vir e ler o testamento. Zoeller assentiu. Ele disse que também tinha ouvido dizer que eles não estavam se dando bem, que, quando um estava na Costa Oeste, o outro estava na Costa Leste. "Qual é o problema?", perguntou Zoeller com simpatia. "Lyle está gastando o dinheiro", confidenciou Erik, segundo o detetive relatou mais tarde, "e ele está tentando gastar o meu dinheiro também. Ele está agindo como meu pai, e nós não estávamos nos dando bem." Um desentendimento entre Erik e Lyle pode parecer difícil de acreditar, dado o quão próximos eles eram. Mas Stevens havia dito a mesma coisa. Lyle estava "tentando manipular seu irmão e ficar com a metade de Erik." Zoeller mudou de assunto, tentando manter a conversa de qualquer maneira. "Agora pode ser o momento, se há algo que você queira nos contar. Não estou dizendo que você estava envolvido no assassinato", continuou ele rapidamente, "mas vocês estão envolvidos em algo que queiram nos contar? Alguém que pudesse ter um motivo para matar seus pais?" Erik manteve a calma. Os policiais acreditavam que, dos dois, Erik era, de longe, a personalidade mais fraca. Eles pensaram que ele poderia ceder sob pressão. Zoeller decidiu confrontar Erik diretamente.
"Você acha que Lyle está envolvido nos assassinatos?", ele perguntou. "Você acha que ele contratou alguém?" "Não", respondeu Erik, ainda impassível. Erik disse que ele e o irmão queriam cooperar com a polícia, e que Lyle ligaria quando voltasse à cidade. Zoeller foi embora sem nada novo para trabalhar, a menos que você considerasse o fato de que os garotos estavam tendo problemas entre si. Isso poderia ser útil mais tarde, mas a investigação não tinha avançado. No entanto, assim que Zoeller saiu, de acordo com vários relatos, Erik pegou o telefone e ligou freneticamente para Princeton, procurando por Lyle. Ele conseguiu falar com Glenn Stevens. Erik disse que precisava falar com Lyle. Disse que a polícia suspeitava que eles haviam cometido os assassinatos. Erik tinha sido calmo e reservado quando Zoeller falou sobre as suspeitas dos repórteres, mas agora ele estava claramente em pânico e, como sempre, precisava do apoio do irmão. Mas ele não conseguiu encontrá-lo. Poucos dias depois, Erik correu para ver seu terapeuta, Jerry Oziel. Era Halloween. Crianças por toda Los Angeles estavam vestindo suas fantasias de bruxa e máscaras de Freddy Krueger. Mas o que Oziel ouviria naquela noite de um Erik Menendez choroso e angustiado seria um verdadeiro pesadelo trazido à vida. Em retrospecto, Zoeller acreditava que foi a conversa com Erik no dia 24 de outubro que trouxe à tona seu medo latente e o fez correr para Oziel, o que meses depois provaria ser sua ruína. — Trecho de Blood Brothers
Erik já tinha confessado o crime antes de procurar o Dr Oziel duas vezes. Um pouco depois das mortes,  Craig Cignarelli, amigo de longa data do adolescente, passou um tempo com o amigo depois dos assassinatos. Erik confessou o assassinato nos mínimos detalhes pela primeira vez. 
Nós entramos no quarto, e Lyle apontou a arma para meu pai e atirou nele", Craig lembrou Erik dizendo. "Ele então se aproximou e atirou na cabeça dele. Eu não consegui atirar na minha mãe, e ela tentou fugir. Lyle atirou nela também. Depois que parecia que minha mãe estava morta, eu atirei nela duas vezes com minha arma." Erik disse que havia sangue e tripas por toda parte. Craig não sabia se acreditava no que tinha ouvido. Ele não perguntou a Erik se ele estava brincando. Eles simplesmente começaram a falar sobre outra coisa.
Durante o colegial, os dois tinham escrito juntos um roteiro sobre um jovem que mata os seus pais para ter ganho financeiro. Erik, inclusive, reescreveu algumas páginas do roteiro, as quais batem completamente com o que ocorreu na noite do assassinato de seus pais. Depois de entregar o amigo para os detetives, Craig quis se mostrar ainda mais útil para a polícia e tentou arrancar uma confissão de Erik. Devidamente grampeado, ele convidou Menendez para um jantar. No meio da conversa, ele tocou no assunto, mas Erik parecia desconfiado e disse assertivamente que não tinha nenhum envolvimento no crime. Cignarelli continuou sendo pressionado pela polícia para continuar falando com os detetives, mas mandou um fax para os policiais dizendo que não poderia continuar ajudando os detetives, pois isso seria traição. Ele assinou o documento como o personagem homicida do roteiro que havia escrito com ErikHamilton Cromwell.

As fitas

Quando Erik procurou o Dr Oziel, estava apresentando claros sinais de depressão e contemplava o suicídio. Em sua confissão, Erik admitiu que uma das motivações para matar os pais era a herança da família. Essa era a terceira vez que Jose ameaçava retirá-lo do testamento. Dessa vez, o patriarca parecia convicto, pois estava muito descontente com a dupla, a qual tinha praticado uma série de roubos em Calabasas. Eles tiveram que se mudar para Beverly Hills por causa do comportamento delinquente dos irmãos. Além disso, Erik afirmou que o assassinato havia ocorrido, pois não aguentava mais ser pressionado por Jose.

De volta ao consultório do terapeuta no quarto andar, Oziel disse que Erik Menendez discutiu a noite de 20 de agosto em detalhes. Segundo a versão do médico, Erik contou que a ideia surgiu algumas semanas antes dos assassinatos. Erik estava assistindo a um programa da BBC sobre alguém que havia matado o próprio pai. Ele chamou Lyle e eles começaram a conversar, inicialmente de forma casual, sobre como seria se a pessoa que dominava e controlava suas vidas simplesmente não existisse mais. Eles discutiram sobre seu próprio pai, como era impossível agradá-lo e o quanto ele tinha sido prejudicial para eles e sua mãe, a quem viam como uma esposa abusada e, nas palavras de Oziel, "uma casca patética de um ser humano". Os irmãos concordaram que não era possível viver com Jose Menendez. A única solução era matá-lo. Em algum momento, Oziel afirmou que os irmãos começaram a planejar seriamente. Após algum debate, eles concordaram que não poderiam matar o pai sem também matar a mãe. Ela saberia o que eles haviam feito e os entregaria. Além disso, embora infeliz no casamento, eles pensaram que ela não conseguiria sobreviver sozinha. Os irmãos discutiram essa questão, disse Oziel, mas, no fim, concordaram que ambos teriam que morrer. Erik disse que sua mãe havia parado de tomar a medicação e se tornado uma "pessoa assustadora". Eles debateram o momento do crime. Lyle queria adiar, mas Erik queria fazer rapidamente, antes de perder a determinação. Lyle cedeu”. — Trecho do livro The Menendez Murders

O programa em questão era o filme Billionaire Boys Club (1987). A trama do longa gira em torno de um grupo de jovens ricos de Los Angeles, os quais se envolveram em um esquema de pirâmide, o qual culmina em uma série de crimes, incluindo assassinato. Quando Lyle criou sua primeira empresa, ele claramente tinha Joe Hunt, líder do grupo, em mente.  A título de curiosidade, um dos detetive do caso Menendez, Les Zoeller, também participou da investigação que colocou Hunt na cadeia.

Assim que Oziel descobriu que Erik e Lyle estavam por de trás dos assassinatos, ele chamou o irmão mais velho para uma sessão e confrontou os irmãos. Lyle teve um surto. Ele ameaçou Oziel. Judalon Smyth, então amante do psicólogo, disse ter ouvido Lyle esbravejando contra o irmão na saída do consultório. Ele chegara a dizer que tinha que matar o irmão e também sugeriu que o Dr Oziel deveria ser morto. O caçula disse na ocasião que não mataria novamente. Oziel ficou com tanto medo que comprou armas de fogo e levou a família para ficar na casa de Judalon. Mesmo com medo, o psicólogo continuou a a gravar as sessões, pois ele temia que algo pudesse acontecer com ele. Smyth ajudou nas gravações. Lyle diria mais tarde que nunca ameaçou Oziel. Segundo Menendez, as gravações ocorreram, pois Oziel queria chantageá-los financeiramente.

Em uma das fitas, a qual foi exibida no primeiro julgamento,  Erik admitiu que matou o pai, pois ele torturava sua mãe. Segundo o jovem, Jose era um homem incrível, que fazia coisas grandiosas, mas as pessoas talvez não conseguissem entender o seu comportamento com os filhos e sua esposa. Quando o terapista afirmou que o pai era extremamente controlador, Erik afirmou que não queria ouvir coisas negativas sobre o próprio genitor, pois ele gostava de manter em sua cabeça aquilo que sonhava aos 14 anos de idade: — "que tinha pais que o amavam e que possuíam um casamento normal". Quando questionado por Oziel se Jose demonstrava que o amava, ele respondeu: Não! Esse ponto é interessante, pois Erik sempre manifesta isso em várias entrevistas: — o quanto ele gostaria de ter sido amado por seus pais. Na sessão em que Lyle participa, os irmãos afirmam que só mataram a mãe, pois era o único modo dela escapar. Mesmo sofrendo com a infidelidade do marido, Kitty continuou blindando Jose. Ele era mais importante do que os filhos. A morte da genitora seria uma espécie de eutanásia. Na fita de confissão, Oziel disse que a mãe de Erik havia ligado algumas semanas antes de sua morte e relatou que Jose queria remover Erik da herança, pois os irmãos se envolveram em uma série de pequenos delitos na época. Jose, inclusive, obrigou o caçula a assumir os delitos, pois sabia que ele só pegaria uma pena leve. Lyle, que era considerado o seu filho favorito, ficaria blindado, e isso não o afetaria na faculdade. Ele estudava em Princeton na época, mas havia tomado uma suspensão de um ano ao plagiar um artigo. Caso tivesse assumido a sua participação, Lyle provavelmente teria que cumprir uma pena pesada por roubo. Eles haviam furtado bens avaliados em mais de 100.000 dólares. Erik assumiu tudo sozinho e foi condenado a cumprir serviços comunitários. Jose devolveu para cada ex-vizinho o valor em dinheiro dos bens que haviam sido roubados pelos irmãos. Os moradores retiraram as queixas contra Erik. 
Ainda em Calabasas, Erik descobriu que os pais tinham grampeado o seu telefone.  Segundo as notas originais do Dr William Vicary, médico psiquiatra que avaliou Erik no seu primeiro julgamento, foi nesse período que o casal descobriu que o jovem supostamente estaria tendo um relacionamento homossexual. Kitty ouviu uma conversa de tom romântico entre Erik e outro garoto, e deu um ultimato para o caçula: ele deveria arrumar uma namorada em seis meses. Nessa época, Jose abriu um buraco no quarto do filho para poder vigiá-lo. Jose também confidenciou para parentes que iria deixar Erik na Califórnia, pois o jovem enfrentava problemas psicológicos. Dessa forma, ele não precisaria sair de casa. O caçula também não poderia dormir no dormitório da universidade, pois Kitty e Jose queriam acompanhar o desempenho acadêmico do rapaz. Erik é disléxico e enfrentou problemas de aprendizagem em toda a sua vida escolar.

Judalon Smyth, responsável pelas gravações das fitas, era ex-paciente de Oziel. Ela virou sua amante durante o tratamento. Isso já mostra um pouco sobre o perfil ético de Oziel. A esposa do terapeuta só descobriu o caso entre os dois quando Smyth perguntou para a filha de Oziel se ela gostaria tê-la como mãe. O terapeuta terminou o relacionamento. Ressentida, ela resolveu se vingar de Oziel. Ela procurou a polícia de Beverly Hills no dia 5 de março de 1990. A polícia, em um primeiro momento, não poderia aceitar as gravações como prova, pois isso representaria uma quebra da confiabilidade entre paciente-médico. Existem regras bem rígidas na Califórnia quanto a isso. Oziel também poderia perder sua licença profissional. O terapeuta então usou uma abertura que existe na lei, onde ele poderia denunciar seus pacientes caso eles oferecessem algum tipo de perigo. 

Quando Lyle foi finalmente preso, foi uma verdadeira comoção nacional. Os principais canais de televisão mostravam o jovem algemado chegando na Delegacia de Beverly Hills. Ele implorou para não ser visto dessa forma. Ele aprendera desde cedo que coisas do tipo manchariam a reputação que tanto os Menendez queriam mostrar para o mundo exterior. Ele foi preso na Elm Drive, rua da mansão dos pais, quando ele se deslocava para um almoço. Foi uma prisão cinematográfica, visto que o automóvel do jovem foi fechado por várias viaturas da polícia que surgiram do nada. Erik, por sua vez, estava disputando um torneio de tênis em Israel. Ao receber um telefonema de Robert Shapiro, o primeiro advogado da dupla, o caçula viajou imediatamente para Londres, onde pegou um voo diretamente para Miami. Erik se encontrou com sua tia paterna Marta, e com seu primo. Durante a viagem de cinco horas até Los Angeles, Erik teria confessado os assassinatos para o seu primo Andy Cano. Ele viajava ao seu lado. Andy só contaria esse segredo para a sua mãe anos depois. Chegando na Califórnia, Erik foi preso por dois policiais e encaminhado para o Centro de Detenção Masculino do Condado de Los Angeles, onde Lyle esperava por ele. Eles ficam aprisionados no local até 1996, ano do seu segundo julgamento.

Ainda em 1990, ocorre a primeira audiência do caso People of California vs. Menendez. Os dois jovens entraram na sala sorrindo e usavam ternos pretos. Enquanto ouviam a acusação, o humor dos irmãos oscilava entre sorrisos e semblantes sérios. Eles tinham um ar de soberba que incomodou os telespectadores que acompanhavam o caso pelos noticiários. Mas outra explicação é plausível para toda essa situação. Jose ensinou para os irmãos que mostrar os sentimentos era um sinal de fraqueza, por isso eles eram tão exímios na arte de controle emocional.  No livro The Secret Diary of Lyle Menendez, escrito por Norma Novelli, uma mulher que visitou Lyle por anos na prisão, Menendez admitiu que não conseguia demonstrar seu lado sentimental e que estava fazendo terapia para destravar suas emoções contidas. 

Lyle ligou hoje à noite. Ele me disse que no próximo mês terá que falar muito com diferentes terapeutas. Ele não está nem um pouco animado com isso. Ele disse: 'Norma, quando você vier aqui, ou quando eu falar com você pelo telefone, me diga quando eu parecer frio e como corrigir esse problema. Me ajude a ver como eu sou, porque você me conhece de fora e eu me conheço de dentro. Leslie Abramson disse que pareço frio demais e que não me importo o suficiente com Erik ou com os outros, e que estou muito envolvido comigo mesmo. Eu tenho que entrar em contato com meus parentes e perguntar como estão. Mas só aqueles que serão testemunhas.

Nessa mesma audiência, eles se declararam inocentes. Também era perceptível que os jovens ainda nutriam um pouco de esperança de que conseguiriam escapar da cadeia.  Eles estavam sendo amparados por grandes advogados e cresceram em um ambiente onde o dinheiro parecia poder comprar tudo. Essa foi outra lição que haviam aprendido com Jose. Quando eles haviam praticado uma série de roubos, o genitor resolvera o problema. Ele sempre dava um jeito de safar os irmãos de suas responsabilidades, pois desejava que os filhos tivessem um futuro brilhante na política ou nos esportes. Jose sempre usava a máxima: "Minta, trapaceie, roube, mas nunca seja pego".

Acho que nem Jose poderia imaginar que a ruína de seus filhos seria às custas de sua própria morte. Ele tentou controlar cada aspecto da família e isso fez com que as coisas saíssem completamente do controle.




No próximo capítulo, falo um pouco sobre a dinâmica da família. Também falarei mais sobre as fitas que traziam a confissão de Lyle e Erik quando abordar o primeiro julgamento. 

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