25 ago. 24
Longlegs (2024) — Direção: Osgood Perkins
Assisti Longlegs, novo longa de Oz Perkins. É um filme que até segue bastante a cartilha de cinema higiênico que é uma constante na filmografia do cineasta. Mas dessa vez, o diretor assume um tom mais disruptivo.
A película acompanha a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe), uma policial que tem um semblante anestesiado e que demonstra um profundo distanciamento emocional em relação ao seu cotidiano. Apesar de ser extremamente intuitiva, a jovem apresenta um certo tipo de inadequação na prática de seu trabalho de campo. É algo que claramente a angustia. Durante uma busca por um criminoso, Lee acaba descobrindo o paradeiro do foragido, o que implica em um desfecho trágico. Impressionados com o seu desempenho nessa missão, Harker é colocada em um caso que desafia a agência. Durante um período de tempo, várias famílias foram encontradas brutalmente assassinadas. Todos os crimes parecem ter sido cometidos pelos genitores. São homicídios seguidos de suicídio. Só que algo intriga o FBI. Cartas codificadas assinadas por alguém que se apresenta com a alcunha de Longlegs foram encontradas em todos os cenários dos familicídios. Mas segundo a análise forense, esse "personagem" nunca esteve dentro dessas residências. Lee passa então a integrar a força-tarefa e a investigação, que por muito tempo esteve completamente estagnada, começa a evoluir, levando a agente para lugares muito sombrios.
De um modo geral, eu gostei muito de "Longlegs". A mise-en-scène é aterrorizante. Ela é bem escura, densa... Apesar de se manter muito rigoroso aos aspectos estéticos das cenas, o que é uma constante na sua filmografia, Perkins aparenta estar um pouco mais despido dessa obsessão por uma higiene visual. Isso contribui positivamente para a construção do longa. Ele precisa de momentos de imperfeição, os quais servem de combustível para a ambientação sufocante. Infelizmente, a atmosfera afligente começa a definhar bastante no terceiro ato da película, e isso é um processo concomitante com o momento em que a história começa a apresentar alguns problemas narrativos quando o roteiro exagera no tom explicativo. Pensando na filmografia de Oz Perkins, acho que esse é o problema que mais me incomoda nos longas dele: a conclusão! Ele sempre apresenta um grande emaranhado de ideias que não vão para lugar nenhum. Até são promissoras, mas não são aperfeiçoadas. Em Longlegs não é diferente. O diretor até teve mais êxito no desenvolvimento das etapas fílmicas, mas o final é insosso.
Na questão de estilo, Longlegs flerta bastante com o cinema avant-garde. O diretor extrai muita beleza e experimentalismo do horror, que é uma característica que já está muito presente em seus filmes anteriores, como I Am the Pretty Thing That Lives in the House (2016). Perkins vem tentando desde o começo de sua carreira construir uma reputação de realizador cult, mas o seu talento nem sempre alcança essa ambição. Eu acho que finalmente ele está abandonando a vibe de produtor de vídeo-ensaio para o MoMA e está encontrando sua voz como um diretor de cinema mais popularesco.
Outro ponto muito abordado sobre o filme é a presença de Nicolas Cage. Ele é a melhor parte do longa. Em seus poucos momentos em cena, ele apresenta uma composição muito desconfortante. Uma mistura de malignidade, imprevisibilidade, e afabilidade perturbadora. Só que como Perkins gosta de um horror muito limpo, essa escolha estética acaba por sepultar quase todo o potencial do personagem Longlegs. Eu acho que ele poderia ser muito mais macabro, sangrento e feroz.
Apesar dos pontos que não gostei tanto, Longlegs é um filme que, enquanto está funcionando a pleno vapor, entrega um horror que me inquietou muito. O plot que acompanha uma agente do FBI que persegue um assassino em série pode até não ser algo muito original. Inclusive, é bem óbvio que Perkins reverencia o cinema de Jonathan Demme e David Fincher em sua obra. Mas há uma fúria subjetiva que se espreita no olhar lânguido de Longlegs que o eleva para um lugar de originalidade onde apenas os mitos do horror residem. Sei que vou reencontrá-lo nos meus pesadelos! E você compartilhará comigo essa experiência.