O desaparecimento de Kris Kremers e Lisanne Froon ganhou um novo capítulo ano passado. Pelo menos no terreno especulativo. A Kast Media divulgou um podcast sobre o desaparecimento das jovens. Comandado pelos jornalistas Jeremy Kryt (conhecido por sua cobertura sobre o caso no site Daily Beast) e Mariana Amancio, a dupla desembarcou na cidade panamenha de Boquete para tentar responder a pergunta: o que aconteceu com Lisanne e Kris em abril de 2014?
Dentre os vários tópicos desse caso, a única coisa que sabemos com toda a certeza é que Kris e Lisanne não estavam na trilha principal. Os membros da Sinaproc (Defesa Civil do Panamá), e demais voluntários, varreram a trilha El Pianista e sua continuação, o sendero Culebra, por muitos dias. Como essas duas trilhas levam até o estado vizinho de Bocas del Toro, toda a extensão foi contemplada. A promotoria afirmou na época que, provavelmente, as meninas teriam se acidentado em uma das pontes-macaco da região, mas nenhum voluntário encontrou algum sinal que isso tenha ocorrido de fato. Parecia até que elas tinham evaporado. Entre o desaparecimento e o momento em que seus restos mortais foram encontrados, não havia nenhum sinal palpável que elas teriam estado na região. A única prova surgiria apenas dois meses depois, quando a mochila foi finalmente encontrada, e os peritos encontraram fotos das jovens nas trilhas. As holandesas documentaram seu passeio até um ponto da sendero Culebra chamado de Quebrada. Nesse córrego, Kris tirou uma de suas últimas fotos. O que aconteceu depois é um grande mistério.
Elas saíram da trilha por alguma razão. Existem várias hipóteses em um cenário onde as duas jovens se perderam e pereceram na selva:
— Ataque de animal;
— Acidente em um dos desfiladeiros que ficam localizados em alguns trechos da trilha, os quais ficam escondidos pela vegetação alta;
— Que elas tenham saído da trilha por questões fisiológicas e entraram em um dos atalhos que levam diretamente para a selva, e acabaram se perdendo;
— Seguiram pela trilha Pata del Macho, a qual tem uma grande altitude, e se perderam. Dentro dessa história existe um fato no mínimo curioso. Em 2014, durante o período de buscas das duas jovens, a Sinaproc (Defesa Civil do Panamá) não teria permitido que a trilha Pata del Macho fosse vasculhada. Sendo uma trilha tão importante da região, não faz muito sentido que esse caminho não tenha sido investigado. As duas garotas poderiam ter se confundido e seguido por esse atalho. Isso só mostra o quanto a busca pelas garotas foi problemática. E até mesmo um dos homens mais importantes da Sinaproc na época concorda com isso. Jose Donderis, oficial aposentado da defesa civil panamenha, disse ao podcast Lost in Panama que o grande problema do caso foi o modo como as buscas foram feitas. Ela iniciou tardiamente (três dias depois do desaparecimento) e ficou concentrada na trilha El Pianista. Essa localidade foi indicada pelo guia F. De fato, elas fizeram uma caminhada na região mas, mesmo depois de tantos dias sem encontrar nenhum sinal das jovens na trilha, por que as pessoas que estavam envolvidas na busca não pensaram em outros cenários? Além disso, é no mínimo estranho que o guia soubesse a localização das meninas. Com tantas trilhas na região de Boquete, como ele sabia a localização exata?
Na minha opinião, a hipótese que elas teriam se perdido na trilha principal é absurda. Existe um vídeo feito por um dos membros do site Imperfect Plan que mostra todo o trajeto da El Pianista e do sendero Culebra, mostrando que, caso as duas jovens tivessem ficado nesse percurso, dificilmente teriam se perdido. É uma trilha bem demarcada. Em alguns pontos, o caminho se torna claustrofóbico por causa dos paredões de pedra. A trilha se estende de forma vertical, mas é cortada horizontalmente por vários atalhos que, em sua maioria, levam até pequenas fazendas de gado (a maioria abandonada). Inclusive, a Sinaproc teve dificuldade nesse aspecto, pois existem centenas de picadas nessa região.
Teoria 01: A festa em Palo Alto
Em algumas partes da trilha, a vegetação esconde grandes abismos muito profundos. Além disso, o sendero Culebra é cortado por uma trilha muito conhecida na região, chamada Pata del Macho. Ela também leva até o mirador, o ponto final da trilha El Pianista. Eu acompanho o caso há bastante tempo e nunca tinha ouvido sobre ela. Esse caminho é muito usado por moradores locais e pelos guardas florestais que trabalham nos parques da região. Ela começa na localidade de Palo Alto e não é muito procurada pelos turistas pelo seu grau de dificuldade. Para percorrê-la, você leva o dobro do tempo para atingir o mirador, pois trata-se de um terreno muito elevado. A Pata del Macho é considerada uma rota cênica, pois fica muito próxima das montanhas da Serra de Talamanca, como o Cerro Pata del Macho, o qual dá nome para essa trilha. Esse sendero ganha protagonismo em uma das versões de um possível crime, o qual é descrito por Margarita, mãe do jovem Osman Valenzuela. Segundo ela, Lisanne e Kris teriam encontrado membros da gangue local enquanto percorriam a continuação da El Pianista, e foram levadas até a casa de um dos criminosos, Cuervo, a qual fica localizada em Palo Alto. Eles foram até lá caminhando pela trilha Pata del Macho. Segundo a investigação do detetive Martin Ferrara, elas estiveram na casa de Cuervo na noite anterior ao desaparecimento. Elas teriam comprado drogas e participaram de uma festa. Possivelmente, por estarem no meio da selva, Lisanne e Kris se sentiram intimidadas pelo grupo de rapazes e fizeram as primeiras ligações para os telefones de emergência. Porém, durante o trajeto até Palo Alto, não existe sinal de telefone.
Como a Pata del Macho é pouco frequentada, eles não tiveram dificuldade para transportá-las. Segundo o podcast Lost in Panama, os membros da gangue fizeram então novamente uma pequena festa regada a drogas na casa de Cuervo. Os membros da gangue tentaram abusar sexualmente das jovens, mas elas resistiram. Então, elas foram assassinadas. Eles limparam a cena do crime e colocaram os restos mortais das jovens em bolsas, as quais foram enterradas nas cercanias de uma árvore de manga localizada no quintal da propriedade. Quando finalmente as buscas pelas duas jovens holandesas terminaram, os membros da gangue levaram os corpos até o rio Culebra, onde os restos mortais foram encontrados. Isso explicaria porque apenas algumas partes dos corpos das meninas foram recuperados. Todos os ossos estavam em um adiantado estado de decomposição. Um osso de Kris estava esbranquiçado. Pelas análises feitas no IML panamenho, ele pode ter sido exposto a uma substância que está presente no solo das fazendas de café da região: cal. Ele é muito usado por criminosos para decompor mais rapidamente um corpo. Os podcasters foram até a casa de Cuervo e sim, ele tem um pé de manga em sua propriedade. E qual a relação de Osman com as vítimas? Ele foi morto alguns dias depois do desaparecimento das jovens. Foi encontrado em uma parte rasa de um rio, apesar de ser um exímio nadador. Sua morte parece ser queima de arquivo. Ele teria sido assassinado, pois teria visto as holandesas na caçamba da caminhonete vermelha do jovem Edwin, membro da gangue, um dia antes do sumiço das garotas. Henry, filho do guia F, estava junto com elas. Isso ocorreu no centro de Boquete. Essa mesma caminhonete foi vista por duas testemunhas no dia 1º de abril, entrando na rua que dá acesso para a trilha, após a passagem das holandesas.
Segundo Margarita, Henry (Tito), filho do guia F, seria o líder dessa organização criminosa e orquestrou o assassinato das garotas. Essa gangue seria composta por filhos de pessoas que tem uma certa relevância na cidade de Boquete. Por essa razão, existe um pacto de silêncio sobre o caso. Ninguém tem coragem de falar sobre isso abertamente por medo de possíveis represálias. Margarita é a primeira pessoa que fala abertamente sobre essa versão do desaparecimento. O detetive Martin Ferrara O'Donell, que mora em Boquete, também acredita nessa versão. Vale ressaltar que, durante a realização do podcast no Panamá, a jornalista Mariana Amancio recebeu mensagens misteriosas com a palavra "kill". Ao entrevistar um funcionário que trabalhava no IML panamenho, Mariana e Jeremy também foram advertidos que estavam entrando em um terreno perigoso.
Teoria 02: A caminhonete vermelha
No dia 1º de abril, duas testemunhas viram a caminhonete vermelha de
Edwin entrando na rua que dá acesso para a trilha
El Pianista. Ela saiu de lá horas mais tarde e, na opinião de alguns investigadores do caso,
Lisanne e
Kris estavam a bordo dela. Elas teriam sido levadas para outra localidade: a fazenda do guia F.
Jose Manuel Murgas, taxista e integrante da gangue (que morreu um ano depois do desaparecimento das jovens em um acidente misterioso), teria dito para a polícia que um dos suspeitos,
Edwin, tinha uma caminhonete vermelha.
Murgas também disse no depoimento que
Henry ficou vários dias desaparecido enquanto as meninas estavam sendo procuradas. Quando finalmente o reencontrou, ele questionou o sumiço. Ele disse que estava na fazenda de seu pai perto do Rio
Culebra. Quando
Murgas questionou o motivo, ele teria desconversado. O mais fascinante sobre esse depoimento é que ele nunca foi investigado pela polícia.
Balbino, uma das testemunhas ouvidas pelo
podcast, auxiliou a promotoria nas entrevistas com os moradores. Ele relata que, quando uma entrevista estava sendo conduzida na fazenda de
Feliciano, o guia interrompeu o interrogatório. Ele estava furioso. Queria saber porque os agentes estavam falando com as pessoas sobre esse assunto. Segundo ele, o caso estava fechado.
Balbino achou estranho o comportamento do guia. A testemunha garantiu que
Feliciano sabe de alguma coisa e, como não existe crime perfeito, os podcasters deveriam continuar investigando o caso. Outro ponto aponta uma possível ligação entre o caso e a família do guia F. Quando a mochila apareceu, quem ligou para as autoridades foi
Domingo, irmão de F. Além disso, existe um conflito de versões entre o casal que supostamente teria encontrado a sacola. Um ponto chama a atenção: a mochila supostamente havia passado dois meses dentro de um rio, no período mais chuvoso da região, e estava em ótimo estado. Os ossos das jovens que foram encontrados estavam dilacerados. Como os pertences das holandesas sobreviveram a violência do rio? Foram encontrados dentro da mochila vários itens, os quais não estavam muito danificados, como os celulares e a máquina fotográfica. Tanto que os dados desses eletrônicos puderam ser recuperados. Eu sempre achei isso suspeito. Parece ser mais plausível que alguém tenha plantado a mochila na região. Outro ponto interessante sobre Domingo. A família de
Kris Kremers visitou a trilha onde as meninas supostamente teriam desaparecido. Durante a caminhada guiada pelo guia F, estava sendo gravado um
vídeo. Domingo disse algo e F ficou furioso. Ele disse em espanhol:
Domingo, eu lhe disse para não dizer nada. A equipe do podcast
Lost in Panama chegou a encontrar uma última testemunha que garante ter visto as meninas com membros da gangue no período do desaparecimento. Ele aceitou depor para a polícia, mas desistiu em cima da hora. Os jornalistas acreditam que isso tenha ocorrido, pois as pessoas da cidade de Boquete, e da localidade de Alto Romero, sentem receio. Temem por sua segurança, visto que estão lidando com pessoas perigosas.
As outras testemunhas
Um morador da região, chamado Veríssimo, ajudou nas buscas pelas jovens holandesas. Segundo ele, elas foram vistas em um clube noturno dois dias antes de seu desaparecimento. Isso parece pouco provável, mas segundo ele, Henry, filho do guia F, estava no local. Algumas informações anteriores dão conta que as meninas teriam virado alvo da gangue em Bocas del Toro. O filho do guia F costumava ir para a região e viu as duas garotas. Elas tiveram azar e foram parar exatamente na cidade dominada por sua gangue. O investigador Martin Ferrara, porém, mostra que sim, as garotas estiveram em uma festa na região, onde encontraram Henry. Segundo sua investigação, as jovens conheceram os membros da gangue, pois estavam atrás de maconha. Elas compraram a droga e, na noite anterior ao desaparecimento, Kris e Lisanne participaram de uma festa na casa de Cuervo em Palo Alto, um dos membros da gangue. Os participantes nunca falaram para a polícia sobre esse evento. Faria sentido que, depois de participarem dessa festa, elas se sentissem confiantes para pegar uma carona com os jovens ao retornar de uma longa caminhada. Ou terem ido com eles até Palo Alto através da trilha Pata del Macho.
Veríssimo ainda traria mais informações sobre o caso durante sua entrevista. Ele garantiu que cinco pessoas foram mortas para encobrir o desaparecimento das jovens europeias. Primeiramente, as duas garotas. Osman foi a terceira vítima, teoricamente afogado. Porém, ele tinha um ferimento suspeito na cabeça. Jose Antonio Murgas foi morto algum tempo depois de prestar o seu depoimento para a polícia. Ele teria sido atropelado, mas tinha ferimentos na cabeça que não eram compatíveis com o acidente. Leonardo Arturo Gonzalez, taxista que levou as jovens até a El Pianista, foi encontrado morto em um rio algumas semanas depois da morte de Murgas.
As versões de Margarita e de outras testemunhas são muito parecidas, e só divergem na localização. Na minha opinião, isso é frustrante, pois os relatos parecem ser versões de uma grande fofoca que circula pela boca dos moradores desde 2014. Toda a fofoca tem um fundo de verdade, mas é difícil descobrir o que resta de realidade nessas narrativas. Ainda mais em um caso que ocorreu em uma cidade de 20.000 habitantes, onde boatos fazem parte do cotidiano. Por causa da investigação deficiente feita pela promotoria do Panamá, nunca saberemos se realmente essas festas aconteceram, e se as jovens perderam a vida em um caso de homicídio. A polícia de Boquete, inclusive, possuía poucos recursos na época para qualquer investigação e preferiu ignorar as evidências. Os membros da gangue nunca foram investigados. Talvez porque até os oficiais da lei da cidade temem por suas vidas.
Analisando as duas possibilidades de um possível cenário de crime, existem muitas coisas que ficariam sem uma explicação plausível nesse imenso quebra-cabeça, como a imagem que foi supostamente deletada da câmera, as chamadas para números de emergência durante vários dias, e as famigeradas fotos noturnas. Margarita, mãe de Osman, teria dito que elas foram fabricadas pela gangue. Como eles sabiam quais são os pontos sem sinal de telefone na floresta, eles fizeram as ligações. Lembra do depoimento de Murgas? Pois é, as fotos noturnas poderiam ter sido tiradas no período em que o filho estava "desaparecido". Ele teria fabricado os registros para evitar uma investigação policial. Os corpos das jovens teriam sido enterrados na região do Rio Culebra. A gangue teria usado o cal que é utilizado nos pés de café para disfarçar o cheiro dos cadáveres, e acelerar a decomposição. Como o Panamá desistiu das buscas depois de duas semanas, tudo parecia favorecer o suposto crime. Mas a Holanda continuou fazendo buscas e, magicamente, pedaços de ossos, roupas e outros pertences das jovens foram encontrados no rio dois meses depois de seu desaparecimento. Talvez assim, as famílias iriam desistir das buscas. Obviamente o relato que estou propondo é especulativo, mas essa versão dos fatos é compartilhada por muitas pessoas na internet e na cidade de Boquete.
Outras descobertas do podcast
O governo do Panamá encerrou o caso das jovens, afirmando se tratar de um acidente ocorrido na trilha, mas muito se especula sobre as informações que corriam na imprensa na época sobre a autópsia das vítimas. Sabemos que o osso da bacia de Kris parecia ter sido quebrado e possuía sinais de embranquecimento, algo que só poderia ter ocorrido pela ação do sol ou de algum oxidante, como cal. O pé de Lisanne ainda possuía pele, indicando que sua morte teria sido recente. É um fato estranho, visto que as garotas estavam desaparecidas há dois meses e meio. Eu conversei com uma fonte que eu tenho no Panamá e ela me disse que haviam pessoas dentro do IML panamenho que acreditavam que o caso era um assassinato. Mas pela pressão que sofreram do governo, eles acabaram optando por um resultado coordenado com a promotoria. Na época, vale lembrar que o presidente do país estava muito preocupado com a indústria turística do país. Se fosse confirmado que as meninas foram assassinadas, turistas teriam medo de visitar o Panamá. Na época da cobertura, a jornalista panamenha Adelita Coriat trouxe várias informações que também indicavam um homicídio. Os jornalistas do podcast Lost in Panama também conversaram com uma fonte anônima do IML panamenho. Ele acredita que o caso parece envolver um homicídio. Pela quantidade de ossos que foram encontrados, as mortes das jovens parecem ser resultado de atividade criminal. E como as autopsias dos restos mortais foram inconclusivas, existe todo um terreno para a imaginação. Ele também afirma que a morte das jovens poderia estar relacionada com tráfico de drogas, de órgãos ou tráfico humano. Obviamente, é só especulação. Os jornalistas também falaram com Georgina Pacheco, uma antropologista forense do país vizinho, Costa Rica. Ela fez a autopsia de Cody Dial, um jovem que visitava a Serra da Talamanca no lado costa-riquenho. Ele foi encontrado dois anos depois do seu desaparecimento e seu esqueleto estava bastante conservado. Ela leu os relatórios da autopsias dos restos mortais de Kris e Lisanne. Pacheco acredita que o pé de Lisanne, que foi encontrado dentro de seu sapato, se desprendeu primeiro, pois isso ocorre naturalmente. E que as partes de um corpo podem ter um tempo de decomposição diferente. Segundo ela, não há sinal que seja um caso de assassinato. Sobre Kris, o osso de seu quadril parece ter sofrido com a ação de algum animal. Isso poderia indicar porque só foram encontrados poucos ossos das duas garotas. Ela não acredita que o esbranquecimento do osso de Kris foi causado pelo sol. Parece ser a ação de substâncias do solo. Já foi confirmado que essas substâncias encontradas no osso de Kris não existem naturalmente no terreno do Culebra. Apenas nas fazendas de café. Segundo Georgina, esse caso só poderá ser determinado se outros restos mortais forem encontrados no futuro. Parece improvável, pois o rio desemboca em um lago profundo de uma hidrelétrica.
Seguindo o caso pelo viés que as duas garotas estavam perdidas na floresta, Jose Donderes, ex-membro da Sinaproc, mostrou alguns cenários que poderiam ter ocorrido com as jovens. Primeiramente, ele acredita que as holandesas seguiram o rio acreditando que ele passaria por Boquete. Essa é uma tática muito usada por pessoas que estão perdidas em florestas. Mas segundo o podcast, o Culebra não retorna para a cidade. Ele deságua no Oceano Atlântico. Para chegar até lá, elas teriam que caminhar centenas de quilômetros. Por tanto, elas adentraram cada vez mais pela selva. Donderes também afirmou que elas podem ter sido surpreendidas por uma enchente repentina no rio, algo que é bastante comum, principalmente quando grandes volumes de chuva acontecem em partes mais altas do rio Culebra. Elas foram arrastadas pela água e se machucaram com seriedade. Ele disse que casos assim acontecem muito no Panamá. Jose Donderes acredita que a causa da morte das garotas foi desencadeada por fatores naturais. Porém, ele afirma que, em seus 30 anos de experiência com resgates na selva, ele nunca havia encontrado corpos desmembrados. Ele ainda guarda muito ressentimento sobre o caso. Segundo ele, elas ainda poderiam estar vivas quando o Panamá decidiu encerrar as buscas. Elas foram deixadas para trás.
O podcast também conversou com o guia Laureano. Primeiramente, ele topou participar da entrevista. Quando os jornalistas chegaram em sua casa, ele mudou de ideia. E inclusive citou que a entrevista deveria ser feita na presença de seu amigo, o guia F. Ele topou conversar apenas em off. Segundo Laureano, os indígenas da região de Alto Romero foram pagos para fazer a busca na região onde a mochila havia sido encontrada. Ele disse que só tinha ordens para procurar no rio. E que o guia F estava participando das buscas. O guia F está em todas as partes desse caso como apontou Mariana durante o podcast. Mesmo que F não tenha nenhuma participação, ele está presente em todos os passos. Ele foi o último a ver as meninas vivas em Boquete, ele foi até o quarto das meninas sem a polícia e deixou seu cartão no meio das coisas delas. Foi ele que denunciou o desaparecimento. Ele foi sozinho procurar por elas na El Pianista. E existem centenas de trilhas na região. Como ele sabia que elas estavam lá? Ele participou das buscas. Seu irmão ligou pra polícia sobre a mochila encontrada. Ele estava no grupo de busca que encontrou os restos mortais das meninas. É por isso que tanta gente desconfia dele.
Existem tantas perguntas sem resposta nesse caso. Temos informações suficientes para visualizar um caso de desaparecimento, onde as jovens realmente se perderam, e pereceram no meio da selva da Serra da Talamanca. Três pessoas morreram nessa região, mas do outro lado da fronteira, na Costa Rica. Cody Dial morreu no Parque do Corcovado. Seu corpo foi encontrado dois anos depois de seu desaparecimento. A holandesa Kertin Dennisse Goedbloed e o australiano Andrew Murray Scott desapareceram na região de Bribri. Eles entraram juntos em uma trilha. Foi uma escolha meio estranha, pois é uma região com uma vegetação muito alta, a qual só pode ser acessada usando um facão. Além disso, o terreno é muito montanhoso e possuía uma grande atividade de carteis de drogas e de tráfico de armas. Durante as buscas, todos os pertences dos dois foram encontrados nas cercanias de uma cachoeira. Kertin foi localizada três quilômetros de onde seus pertences foram encontrados. Ela tinha uma lesão na perna e havia feito um torniquete. Ela era formada em medicina. Ela estava sentada em uma pedra e a autopsia confirmou que sua morte foi causada por inanição e pela infecção instalada em seu membro. Andrew seria encontrado um ano depois, numa distância de 800 metros de onde o corpo de Kertin foi encontrado. É notório que é plenamente possível perecer na Serra da Talamanca. É uma área muito inóspita, montanhosa, com animais perigosos. Mas no caso de Lisanne e Kris, também existem muitos indícios que apontam para um assassinato. Ou seja, esse é um caso muito difícil.
De certa forma, eu acho que é muito plausível que essas meninas foram mortas por uma enchente rápida no Rio Culebra. Mas infelizmente a Sinaproc não fez uma busca na região. Não seguiu o curso do rio. Mas o que me pega nesse caso é o seguinte. Se estamos falando de um caso de desaparecimento, algo que é comum no Panamá, por que as pessoas de Boquete têm medo de falar sobre o assunto?
Outro detalhe que gostaria de abordar rapidamente. Foi lançado um
livro sobre assunto ano passado. Ele não trás muitas revelações e foi coescrito por
Betzaida Pittí, que coordenou parte das investigações do caso. Pretendo fazer um review da publicação em breve.
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