Mary Philbin
foi uma das grandes atrizes do cinema mudo estadunidense. Participou de
produções que marcaram a história da sétima arte, como os clássicos O Fantasma da Ópera (1925) e O Homem que Ri (1927). Tinha uma figura doce, perfeita para interpretar mocinhas, mas também convencia como personagens malévolas, como Julie, a bela assistente do mágico Erik (Conrad Veidt) em The Last Performance (1929). Hoje, no Mulheres Fantásticas do Horror, vamos conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória.
O Fantasma da Ópera
O primeiro longa de terror estrelado por Mary é um verdadeiro clássico. Trata-se de O Fantasma da Ópera. Aclamada como atriz por causa da película, ela penou durante a produção da mesma. O diretor do longa, Rupert Julian, era insuportável. Vivia brigando com Lon Chaney
e corrigindo o figurino de Mary freneticamente. Durante as gravações,
Philbin precisava chorar na cena em que retira a máscara do fantasma,
mas não conseguia e estava sendo muito pressionada por Julian. E aí que
nasce a grande amizade de Mary com Lon Chaney. O ator percebeu o
desconforto da atriz e solicitou que pudesse conduzir a cena. Chaney,
então, foi bastante ousado e disse vários insultos para a atriz, que
ficou magoadíssima. Para completar, Lon levantou a mão, demonstrando a
intenção de agredi-la. Philbin caiu imediatamente para trás, gritando,
com as mãos no rosto e com os olhos cheios de lágrimas. Quando a cena foi
capturada pelas câmeras, o veterano ator foi então abraçá-la e explicou
que agira daquela forma para conseguir o que queria para o filme. Mary
ficou maravilhada com Chaney e passou a confiar no ator, tanto que ele
estava presente na gravação de todas as suas cenas posteriores, mesmo se
não estivesse dirigindo ou atuando com ela.
O Homem Que Ri e The Last Performance
Baseado no livro de Victor Hugo, O Homem que Ri (1928) conta a história devastadora de Gwynplaine (Conrad Veidt), um homem condenado a sorrir. Desfigurado quando criança pelo Rei James II por ser considerado um inimigo político, e condenado à morte, Gwynplaine é salvo por um aldeão. Em sua vida adulta transforma-se, ironicamente, em uma atração, uma espécie de palhaço, por causa de seu "sorriso permanente", causado pelo terrível castigo do monarca. Seu único consolo é o seu romance com Dea (Mary Philbin), uma jovem deficiente visual. O filme, que inspirou o personagem Coringa, é a primeira parceria entre Philbin e Conrad Veidt na Universal. Os dois se reencontrariam no penúltimo filme da atriz, The Last Performance, onde Veidt interpreta o mágico Erik, um homem apaixonado por sua jovem ajudante, a qual é interpretada por Mary. Apesar da película não possuir uma narrativa muito impressionante, Philbin pôde mostrar um pouco de versatilidade como atriz. Aqui ela não é tão inocente quanto suas personagens anteriores.
Philbin
reunia todos os predicados que uma atriz precisava ter para trabalhar
no cinema da era silenciosa. Era expressiva, conseguia demonstrar suas
emoções com muita facilidade e de maneira muito convincente. Logo,
imaginava-se que, assim como Conrad Veidt, seu parceiro em dois
longa-metragens, e que foi um dos grandes nomes do cinema mudo, Mary
também conseguiria fazer essa transição com muita competência. Mas não
foi o que aconteceu. A atriz abandonou sua carreira em 1929. Mas não foi
por questão de talento, mas por uma razão pessoal.
A
jovem atriz, que brilhava nas telas dos cinemas, tinha uma vida
conturbada. Seus pais eram extremamente dominadores. Natural de Chicago,
sua mãe só concordara que ela se mudasse para Los Angeles, pois um
casal de amigos da família estava indo viver na cidade. Quando Mary
começou a fazer sucesso, a família toda se mudou em definitivo para a Califórnia
e a genitora costumava acompanhá-la nos compromissos, inclusive, nos
sets de filmagens. Quando Mary se apaixonou pelo produtor de cinema Paul Kohner,
que era de origem judia, e já possuía planos de casar-se com ele, seus
pais barraram o romance. O motivo alegado: os Philbin eram católicos.
Mary e Paul, porém, nunca esqueceram um do outro. Depois do falecimento
do produtor, foram encontradas cartas românticas que Mary havia escrito
para ele em seu escritório. Ele as mantinha ao alcance de suas mãos.
Mary morreu aos 90 anos. Vivia de forma reclusa. Nunca casou-se. Passou boa parte de sua vida cuidando de seus pais.