Mónica, más allá de la muerte: o cinema peruano de horror de Roger Acosta Escobar


O diretor Roger Acosta Escobar é um dos grandes nomes do cinema peruano. É responsável por uma das maiores obras-primas do horror do Peru, o longa-metragem Mónica, más allá de la muerte (2006).
O filme aborda uma das lendas mais famosas da cidade de Arequipa, o fantasma de Mónica, a jovem sedutora que abandona a sua lápide durante à noite para seduzir homens incautos. Nesse novo capítulo do projeto Final Chica, conversei com o cineasta sobre a confecção dessa película fantasmagórica.


[FG] A lenda de Mónica é uma história muito famosa em Arequipa. Você lembra quando a ouviu pela primeira vez?

Quando eu tinha por volta de onze anos. Era uma história que ficou muito popular nessa época, por volta de 1973, por aí. Devo esclarecer que agora vivo em Arequipa, mas nessa época vivia em Juliaca (província de Puno), uma cidade que fica a 3.320 km ao sul.

Cartaz de Mónica, más allá de la muerte

[FG] Como você vivia tão longe de Arequipa, por que decidiu transformar essa lenda em um filme?

Quando eu terminei o colégio, fui para Lima estudar desenho animado. Não retornei para Juliaca e vim viver aqui em Arequipa. Tinha pensado em desenvolver animação, mas as condições não eram adequadas, então decidi fazer um filme com pessoas. Já tinha outro projeto mais ambicioso, mas não tinha o dinheiro necessário, e Mónica, por ser uma lenda que é uma das mais populares daqui, e que não precisava de tanto orçamento e tecnologia, decidi fazê-la.

[FG] Como foi o processo de filmagem? Como você conheceu a atriz Rosalía Rodríguez? Ela é muito perfeita como a Mónica.

Juntei um grupo de pessoas que conheciam algo de produção audiovisual, propus o projeto e decidiram participar dele. Conheci a Rosalía em um concurso de beleza onde escolhiam a Señorita Carnaval. Inclusive, não tinha pensando em ir assistir o evento, por acaso cheguei e não consegui me sentar, então vi parte da eleição parado, no final do teatro municipal. Quando vi as participantes, quando a vi, foi como uma flecha instantânea. Eu gostei dela para a personagem. Esperei que terminasse o evento e, na saída, me aproximei timidamente dela e lhe disse que queria fazer uma película, e que gostaria que ela fosse a protagonista. Ela gostou da ideia imediatamente. Me contou sobre seus estudos na Argentina relacionados com teatro, cinema e essas coisas. E eu não me equivoquei. Jovan, o outro protagonista da história, foi apresentado a mim por um amigo que eu havia comentado sobre o projeto. Então fomos a uma cevicheria e falamos com ele. Também ficou interessado e assim, pouco a pouco, fui reunindo os participantes.

[FG] Como você estava fazendo um filme sobre uma lenda tão famosa. E existem tantos relatos de pessoas que dizem que realmente viram Mónica, que tipo de coisas estranhas aconteceram durante as filmagens?

Primeira coincidência: pessoas relataram ter visto ela no cemitério. De noite, não funcionavam os equipamentos. Pensávamos que algo tinha acontecido ou falhado, mas ao chegar em casa e revisá-los, eles não apresentavam defeito algum. Assim que voltávamos a gravar, íamos preparados com alguns amuletos. Inclusive, fizemos uma oferenda no lugar onde se supõe que ela está enterrada, com um lindo buquê de flores, cerveja e outras coisinhas. No dia seguinte, quando fomos filmar, todas as flores estavam murchas e podres, algo raro, pois foi de um dia para o outro. Algo parecido aconteceu com um de nossos veículos que usamos em uma das cenas que partia do cemitério e que chegaria até onde supostamente era a sua casa. Você ligava o carro e as luzes se acendiam. As luzes se apagavam e tocava a música. Apagava a música e o carro ligava. Ficamos mais de uma hora tentando descobrir o que estava acontecendo. Afinal, não podíamos fazer toda essa sequência e levamos o carro para guardar, guinchado por outro automóvel. Na manhã seguinte, quando levamos ao mecânico para que o revisasse e visse quais eram os defeitos, não havia nada anormal. Tudo funcionava perfeitamente. Haviam dias que tudo era perfeito. Não falhava nada. Até o clima, os atores, locações, nada de agitação, tudo perfeito. Eram cenas de romantismo. Incrível. Era como se soubera que essa cena era bonita, especial. Não sentíamos essa carga ou pressão como quando sentíamos a presença de algo estranho no cemitério. 

[FG] Como a história de Mónica, também há a lenda de Uma no Peru, a cabeça voadora da bruxa, que sai à noite seduzindo homens. Que, se pensarmos sobre isso, é basicamente o mesmo contexto. Por que você acha que esse tipo de lenda de mulher sedutora está tão arraigada no folclore peruano?

Com a chegada dos conquistadores espanhóis, eles vieram trazendo muitos de seus costumes, dentre eles, também trouxeram suas lendas e as instalaram nas principais cidades. Eu particularmente acredito que naqueles dias a única e mais popular forma de entretenimento era a bebida. Especialmente em áreas onde a produção de vinho, pisco e conhaque era ótima, já que esse local fornecia às minas de Potosí na Bolívia. E os homens, deixando suas esposas, se perdiam em festas que chegavam até altas horas da noite. Isso, com a intervenção dos padres depois de tanta reclamação das mulheres, para colocar ordem e evitar que saíssem, começaram a circular esse tipo de conto. Com o tempo, eles se tornaram certos, porque a psicose coletiva e as alucinações dos bêbados, tornaram esses rumores verdadeiros. Devo também pensar que, em certas ocasiões, essas lendas coincidem com mortes ou eventos estranhos que as reforçam.

[FG] Como foi a recepção da película no Peru?

Não tivemos a possibilidade de colocá-lo nos multiplex. Mas aqui em Arequipa ficamos 8 meses em cartaz de quinta a domingo. Duas sessões por dia. A capacidade do cinema era de 850 pessoas. E geralmente transbordando de espectadores. O levamos para partes diferentes do interior do país, em turnês onde organizávamos cada apresentação e a assistência era massiva. No ano passado, fui convidado, depois de dezesseis anos, ao Festival de Cine de Lima, o mais importante do Peru, justamente com essa película. Alguém a colocou no YouTube. Tive que pedir que a retirasse, mas já tinha mais de 100 mil visitas em pouco tempo.

[FG] Como você avalia a produção de cinema de terror peruano?

A nível nacional, o que se realiza em Lima, como capital do país, é onde se concentra a maior produção, e que tem as melhores possibilidades de ingressar nas salas comerciais, e a outra que se realiza nas províncias. Em Lima, os temas são mais relacionados com dramas e algumas de humor ou mera distração. Nas províncias, é maior a quantidade de películas de terror ou mistério. Isso está relacionado a mesma idiossincrasia das pessoas. Pois, por serem lendas populares, as pessoas ficam conectadas e querem ver suas histórias no cinema.

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