01 fev. 20
Ted Bundy: Falling for a Killer
Ted Bundy: Falling for a Killer,
nova minissérie da Amazon Prime, é um projeto reconfortante. Não se trate de
mais um documentário sobre Ted Bundy. É uma carta aberta cheia de vozes
silenciadas, as quais foram finalmente ouvidas pela diretora Trish Wood.
Ela dá oportunidade para que muitas personagens dessa terrível história possam apresentar sua narrativa. Temos Elizabeth Kendall (a ex-namorada de Ted), sua filha, Molly, — a qual tratava Bundy como um pai, policiais que não puderam participar mais ativamente da investigação dos desaparecimentos, pois eram mulheres. Familiares e amigas das vítimas. Até mesmo a psicóloga Donna Schram, a qual trabalhou com Bundy, e depois participou dos esforços para encontrar o assassino das garotas desaparecidas. Sobreviventes da fúria destrutiva do serial killer. Pessoas que foram marcadas por esses crimes que ocorreram na década de setenta, e que ainda são assombradas pelos mais diferentes tipos de fantasmas.
Ela dá oportunidade para que muitas personagens dessa terrível história possam apresentar sua narrativa. Temos Elizabeth Kendall (a ex-namorada de Ted), sua filha, Molly, — a qual tratava Bundy como um pai, policiais que não puderam participar mais ativamente da investigação dos desaparecimentos, pois eram mulheres. Familiares e amigas das vítimas. Até mesmo a psicóloga Donna Schram, a qual trabalhou com Bundy, e depois participou dos esforços para encontrar o assassino das garotas desaparecidas. Sobreviventes da fúria destrutiva do serial killer. Pessoas que foram marcadas por esses crimes que ocorreram na década de setenta, e que ainda são assombradas pelos mais diferentes tipos de fantasmas.
A diretora teve muita
sensibilidade e conseguiu fazer um trabalho que respeitou não somente as
pessoas que foram vitimadas por Ted, como também a própria família do
assassino. Ela entrevistou o irmão mais novo de Bundy, Rich, o qual vive com o
estigma de ser parente do criminoso. Isso é algo que Wood faz questão de
pontuar. De como os familiares do serial killer não tiveram nada a ver com seus
atos horrendos. E, mesmo assim, foram perseguidos pela mídia sensacionalista e pela opinião pública. Rich, inclusive, amava muito o seu irmão na infância, possuía um vínculo muito forte com ele, e nunca conseguiu se recuperar do fato de que Ted, na verdade, era uma pessoa monstruosa. Se ele não poderia acreditar na pessoa que mais amava, em quem poderia? Em entrevista ao podcast Martinis & Murder, a diretora
afirma que até hoje Rich possui problemas para confiar nas pessoas e tem depressão, tanto que não consegue se afastar do trailer onde vive. Por causa disso, sua situação econômica é de penúria. Isso só mostra o quanto uma tragédia como a de Bundy impacta na vida das pessoas de uma maneira irreversível. É um grande ciclo de sofrimento.
Rich Bundy |
E isso acaba sendo a lógica do
true crime, a maioria das narrativas está sempre centralizada no assassino e em sua glamourização. Não só no caso de Bundy, mas em muitos outros, as
vítimas são quase sempre apenas nomes ou números. Elas nunca têm história ou uma face. Os familiares das vítimas possuem poucos minutos de fala. Até mesmo os parentes do assassino, que também sofrem por serem arrastados para dentro de um turbilhão midiático, parecem só poder expressar aquilo que ajude a fomentar a linha escolhida pela mídia para abordar o caso. Ou até mesmo no caso de Elizabeth, que era a namorada de um assassino. Ninguém parecia ter interesse de ouvir o seu lado da moeda. Nem mesmo os policiais da época. Ela chegara a denunciar Bundy em Washington e Utah, mas suas denúncias foram tratadas de forma leviana. Parecia só existir interesse na época em narrativas sensacionalistas ou que fossem conduzidas por homens. E
isso foi extremamente irresponsável, pois vivemos em uma sociedade que possui uma cultura de
violência contra a mulher muito grande. E eram justamente elas que estavam perdendo suas vidas. Por que ignorá-las? Isso tudo só beneficiou Ted. E o circo midiático o transformou em uma espécie de celebridade, tanto que ele começou a receber centenas de cartas de mulheres na prisão.
Então, mais do que nunca, esses casos que envolvem crimes reais devem sempre ser abordados do ponto de vista de quem perdeu a vida, da sobrevivente. Do familiar, do que sofre por causa dessa situação. Nunca do monstro. É preciso tirar os verdadeiros personagens da invisibilidade, e parar de transformar assassinos cruéis em “celebridades”. E foi isso que a diretora Trish Wood fez nessa minissérie documental. Ela tirou toda a "voz" dada ao Ted Bundy por todos esses anos, e deu para quem deveria falar desde o princípio, e essas pessoas encerraram o assunto. E essa é a grandeza desse documentário, o fato de que ele é definitivo. Serve para finalizar essa conversa. Não existe mais nada para ser abordado. Não há mais nada para ser dito sobre Ted Bundy. Como disse a psicóloga Donna Schram “E o que me deixa com tanta raiva dele é que ele não fez uma única coisa positiva neste mundo e matou muitas jovens que teriam feito.”
Então, mais do que nunca, esses casos que envolvem crimes reais devem sempre ser abordados do ponto de vista de quem perdeu a vida, da sobrevivente. Do familiar, do que sofre por causa dessa situação. Nunca do monstro. É preciso tirar os verdadeiros personagens da invisibilidade, e parar de transformar assassinos cruéis em “celebridades”. E foi isso que a diretora Trish Wood fez nessa minissérie documental. Ela tirou toda a "voz" dada ao Ted Bundy por todos esses anos, e deu para quem deveria falar desde o princípio, e essas pessoas encerraram o assunto. E essa é a grandeza desse documentário, o fato de que ele é definitivo. Serve para finalizar essa conversa. Não existe mais nada para ser abordado. Não há mais nada para ser dito sobre Ted Bundy. Como disse a psicóloga Donna Schram “E o que me deixa com tanta raiva dele é que ele não fez uma única coisa positiva neste mundo e matou muitas jovens que teriam feito.”
Karen Sparks |