08 jun. 19
Terror Argentino - O cinema fantástico de Pablo Parés
Pablo Parés é um dos maiores expoentes do cinema de terror argentino. Começou sua carreira cinematográfica aos doze anos de idade. Já dirigiu mais de 20 longa-metragens, incluindo a cultuada trilogia Plaga Zombie, a qual inaugurou o subgênero de zumbis na Argentina.
Pablo é um diretor multifacetado e já explorou em seus filmes vários gêneros, como o terror, a ficção científica, a comédia, a aventura. Tive a oportunidade de conversar com o cineasta em mais um capítulo do projeto Final Chica.
[FG] É verdade que você começou a fazer filmes de terror com doze anos de idade?
Sim. Tive a sorte de ter um irmão meio artista. Ele me ensinou a esboçar, desenhar, animar e outras técnicas desde praticamente quando nasci. Aos 12 anos pude comprar uma câmera de VHS e, junto ao meu irmão e Hernán Sáez, um amigo de toda a vida, começamos a fazer curta-metragens do gênero fantástico, terror, aventura, comédia, ficção científica, muito influenciados pelo cinema de Steven Spielberg, Peter Jackson, Sam Raimi e Robert Rodríguez.
[FG] O que você mais gosta no gênero terror?
O que mais me atrai no gênero é que te dá a possibilidade de gerar sensações não usuais no público. Medo, sustos, risadas. Por outro lado, é um dos poucos gêneros em que se pode conquistar um resultado próximo ao cinema mainstream, mas com recursos baixos.
[FG] Plaga Zombie foi a primeira película de zumbis da Argentina. Como foi a experiência de fazer o filme? O que você acredita que Plaga Zombie e Plaga Zombie - Zona Mutante contribuem para as películas de zumbis?
Fazer Plaga Zombie foi uma experiência incrível. Foi uma as poucas películas em que estive envolvido 100%, trabalhando de dia e sonhando de noite. Era quase uma obsessão. Nós a fizemos entre os 17 e 18 anos de idade, desde a inocência de não ter estudado cinema, sem saber que as películas eram rodadas em 35 mm. Estávamos absolutamente convencidos de que o que fazíamos era uma película. Nós nos divertimos muito, acho que isso é transmitido quando a assistimos. Creio que a trilogia Plaga Zombie abriu as portas na América Latina para este tipo de cinema. Que antes era mínimo e se limitava a Hollywood ou países de primeiro mundo. A saga transmite a sensação de que “você também pode fazer um filme” e isso ajudou a gerar um movimento do cinema fantástico que continua crescendo até hoje em dia.
[FG] Você repetiu sua parceria com o diretor Daniel de la Veja e fizeram Soy Toxico, que é uma película apocalíptica e que também explora o tema zumbi. Qual é a principal diferença entre os zumbis de Plaga Zombie e os de sua nova película? Como surgiu a ideia do filme?
Soy Tóxico foi escrita junto com Daniel de la Vega e dirigida por mim. A ideia nasceu de uma encomenda de um produtor norte-americano para que escrevêssemos um western com mutantes para rodar no Valle de la Luna, San Juan. Esse projeto nunca se concretizou, mas tempo depois o retomamos e transformamos nesta nova película. Os zumbis são muito distintos entre as duas películas. Em Plaga Zombie, se trata de humanos infectados por um vírus extraterrestre que, pouco a pouco, vão se transformando em aliens. São rápidos, coloridos e divertidos. Em Soy Tóxico, se trata de humano doentes, que perderam a memória e pouco a pouco, vão secando e perdendo a mobilidade. São de sangue frio, sem cor, lentos e com uma textura de terra.
[FG] Bruno Motoneta é um filme que impressiona muito pela criatividade. Se você tivesse que enquadrar seu filme em um subgênero, como você o definiria?
É uma comédia bizarra para toda a família. Sou um amante do cinema bizarro, trash, cafona ou raro, que são muito pouco explorados hoje em dia. Tentei que a película fosse algo assim, como a “porta de entrada” das crianças a este tipo de cinema mais estranho.
[FG] Muitas pessoas leem sua duologia Nunca Asistes a Este Tipo de Fiestas como uma forma pessoal de lidar com as cicatrizes da ditadura militar na Argentina. Você teve a intenção de abordar o tema?
As películas abordam este tema, mas desde uma visão muito inocente e despolitizada, já que as fizemos sendo muito jovens e ignorando a profundidade dos temas que estávamos tratando. O assassino que apresentamos nos filmes é esse tipo fascista, que segue recordando das ditaduras como uma época boa e anseia por voltar a isso.
[FG] Você fez películas de zumbis, de mistério e trabalhou com a ficção. É fácil fazer cinema de gênero na Argentina? A experiência mudou ao longo dos anos?
Fazer cinema é fácil e é difícil ao mesmo tempo. É possível conseguir uma câmera (ou um celular), alguns amigos e fazer uma película interessante, que transcenda. Claro, você tem que trabalhar muito, como em qualquer coisa que valha a pena na vida. Fica mais difícil com o passar dos anos e começamos a tentar alcançar os padrões do cinema de Hollywood, feitos com milhões de pessoas. Eu acho que você tem que estar muito consciente dos recursos que você tem e tentar fazer um cinema sincero com isso, sem mirar muito mais alto que você. Quando estou enfrentando um grande desafio, fico aliviado ao pensar que, aos 15 anos, com uma câmera VHS e alguns amigos, conseguimos bons resultados. Nada pode dar errado se você sabe que, com praticamente nada, você pode chegar a algo.
[FG] O que você mais gosta sobre o cinema de terror feito na Argentina?
Somos latinos, de sangue quente. Reagimos diferente a tudo. Pensamos diferente. Não somos norte-americanos. Nós rimos de tudo, até das piores tragédias. Sobrevivemos incontáveis crises. Não somos politicamente corretos. O mais interessante do nosso cinema é o imprevisível de nossos personagens diante das situações de perigo. Aqui não é normal ter armas de fogo em tua casa, então as armas passam a ser coisas mais criativas. Aqui não há FBI ou SWAT e a polícia é pior do que os monstros que atacam. Assim, as soluções diante de cada problema são distintas, novas. Outra cultura, outro cinema. O cinema de terror feito na Argentina e na América Latina é novo, diferente e incomparável a qualquer outro. E, pouco a pouco, estamos conseguindo resultados melhores, vamos aprendendo. Me entusiasmo em pensar quanto vai melhorar nos próximos 10, 15 e 20 anos. Estamos em um bom caminho.
Pablo é um diretor multifacetado e já explorou em seus filmes vários gêneros, como o terror, a ficção científica, a comédia, a aventura. Tive a oportunidade de conversar com o cineasta em mais um capítulo do projeto Final Chica.
[FG] É verdade que você começou a fazer filmes de terror com doze anos de idade?
Sim. Tive a sorte de ter um irmão meio artista. Ele me ensinou a esboçar, desenhar, animar e outras técnicas desde praticamente quando nasci. Aos 12 anos pude comprar uma câmera de VHS e, junto ao meu irmão e Hernán Sáez, um amigo de toda a vida, começamos a fazer curta-metragens do gênero fantástico, terror, aventura, comédia, ficção científica, muito influenciados pelo cinema de Steven Spielberg, Peter Jackson, Sam Raimi e Robert Rodríguez.
[FG] O que você mais gosta no gênero terror?
O que mais me atrai no gênero é que te dá a possibilidade de gerar sensações não usuais no público. Medo, sustos, risadas. Por outro lado, é um dos poucos gêneros em que se pode conquistar um resultado próximo ao cinema mainstream, mas com recursos baixos.
[FG] Plaga Zombie foi a primeira película de zumbis da Argentina. Como foi a experiência de fazer o filme? O que você acredita que Plaga Zombie e Plaga Zombie - Zona Mutante contribuem para as películas de zumbis?
Fazer Plaga Zombie foi uma experiência incrível. Foi uma as poucas películas em que estive envolvido 100%, trabalhando de dia e sonhando de noite. Era quase uma obsessão. Nós a fizemos entre os 17 e 18 anos de idade, desde a inocência de não ter estudado cinema, sem saber que as películas eram rodadas em 35 mm. Estávamos absolutamente convencidos de que o que fazíamos era uma película. Nós nos divertimos muito, acho que isso é transmitido quando a assistimos. Creio que a trilogia Plaga Zombie abriu as portas na América Latina para este tipo de cinema. Que antes era mínimo e se limitava a Hollywood ou países de primeiro mundo. A saga transmite a sensação de que “você também pode fazer um filme” e isso ajudou a gerar um movimento do cinema fantástico que continua crescendo até hoje em dia.
[FG] Você repetiu sua parceria com o diretor Daniel de la Veja e fizeram Soy Toxico, que é uma película apocalíptica e que também explora o tema zumbi. Qual é a principal diferença entre os zumbis de Plaga Zombie e os de sua nova película? Como surgiu a ideia do filme?
Soy Tóxico foi escrita junto com Daniel de la Vega e dirigida por mim. A ideia nasceu de uma encomenda de um produtor norte-americano para que escrevêssemos um western com mutantes para rodar no Valle de la Luna, San Juan. Esse projeto nunca se concretizou, mas tempo depois o retomamos e transformamos nesta nova película. Os zumbis são muito distintos entre as duas películas. Em Plaga Zombie, se trata de humanos infectados por um vírus extraterrestre que, pouco a pouco, vão se transformando em aliens. São rápidos, coloridos e divertidos. Em Soy Tóxico, se trata de humano doentes, que perderam a memória e pouco a pouco, vão secando e perdendo a mobilidade. São de sangue frio, sem cor, lentos e com uma textura de terra.
[FG] Bruno Motoneta é um filme que impressiona muito pela criatividade. Se você tivesse que enquadrar seu filme em um subgênero, como você o definiria?
É uma comédia bizarra para toda a família. Sou um amante do cinema bizarro, trash, cafona ou raro, que são muito pouco explorados hoje em dia. Tentei que a película fosse algo assim, como a “porta de entrada” das crianças a este tipo de cinema mais estranho.
[FG] Muitas pessoas leem sua duologia Nunca Asistes a Este Tipo de Fiestas como uma forma pessoal de lidar com as cicatrizes da ditadura militar na Argentina. Você teve a intenção de abordar o tema?
As películas abordam este tema, mas desde uma visão muito inocente e despolitizada, já que as fizemos sendo muito jovens e ignorando a profundidade dos temas que estávamos tratando. O assassino que apresentamos nos filmes é esse tipo fascista, que segue recordando das ditaduras como uma época boa e anseia por voltar a isso.
[FG] Você fez películas de zumbis, de mistério e trabalhou com a ficção. É fácil fazer cinema de gênero na Argentina? A experiência mudou ao longo dos anos?
Fazer cinema é fácil e é difícil ao mesmo tempo. É possível conseguir uma câmera (ou um celular), alguns amigos e fazer uma película interessante, que transcenda. Claro, você tem que trabalhar muito, como em qualquer coisa que valha a pena na vida. Fica mais difícil com o passar dos anos e começamos a tentar alcançar os padrões do cinema de Hollywood, feitos com milhões de pessoas. Eu acho que você tem que estar muito consciente dos recursos que você tem e tentar fazer um cinema sincero com isso, sem mirar muito mais alto que você. Quando estou enfrentando um grande desafio, fico aliviado ao pensar que, aos 15 anos, com uma câmera VHS e alguns amigos, conseguimos bons resultados. Nada pode dar errado se você sabe que, com praticamente nada, você pode chegar a algo.
[FG] O que você mais gosta sobre o cinema de terror feito na Argentina?
Somos latinos, de sangue quente. Reagimos diferente a tudo. Pensamos diferente. Não somos norte-americanos. Nós rimos de tudo, até das piores tragédias. Sobrevivemos incontáveis crises. Não somos politicamente corretos. O mais interessante do nosso cinema é o imprevisível de nossos personagens diante das situações de perigo. Aqui não é normal ter armas de fogo em tua casa, então as armas passam a ser coisas mais criativas. Aqui não há FBI ou SWAT e a polícia é pior do que os monstros que atacam. Assim, as soluções diante de cada problema são distintas, novas. Outra cultura, outro cinema. O cinema de terror feito na Argentina e na América Latina é novo, diferente e incomparável a qualquer outro. E, pouco a pouco, estamos conseguindo resultados melhores, vamos aprendendo. Me entusiasmo em pensar quanto vai melhorar nos próximos 10, 15 e 20 anos. Estamos em um bom caminho.
Curioso (a) para conhecer mais sobre o trabalho do diretor? Pablo disponibilizou alguns de seus filmes no YouTube. Você pode conferir as produções no site Cine Salvaje.