25 mar. 18
[Livro] Resenha: Com amor, Simon
Faço parte de um clube de leitura chamado Infinistante e, no mês de março, haviam duas opções de leitura: Me Chame Pelo Seu Nome, de André Aciman, e Simon vs. A Agenda Homo Sapiens, de Becky Albertalli. Como, devido ao Oscar, eu já havia ouvido falar muito sobre Call Me By Your Name, resolvi apostar em Simon vs. A Agenda Homo Sapiens, o qual foi adaptado para o cinema recentemente e, graças a isso, teve seu nome alterado no Brasil para Com amor, Simon.
Basicamente, o livro é destinado para o público infantojuvenil. E eu, com 34 anos, estava um pouco desconfiada sobre como seria a leitura. E fui surpreendida positivamente, pois o livro traz temas que são atemporais e são uma lição para pessoas de qualquer idade, apesar de sua linguagem mais descolada e mais atrativa para o público jovem.
A publicação fala sobre Simon, um garoto gay, o qual está vivendo um dilema muito pertinente: como sair do armário em um mundo tão heterossexual? Ele tem medo de se abrir para os pais, ele teme a reação das pessoas onde ele vive e estuda, principalmente por morar na Geórgia, um estado do sul dos Estados Unidos, o qual ainda guarda bastante resquícios de preconceito, frutos da Guerra da Secessão, e do escravagismo. E, para piorar a situação, Simon começa a se comunicar por e-mail com um garoto misterioso da escola, o qual também é gay. Ele não sabe sua identidade, pois o conheceu em um tumblr da escola. Eles passam a se corresponder e um dia, esperando um e-mail muito importante, Simon resolve acessar sua conta em um dos computadores da biblioteca da escola. O log off falha, e um dos seus colegas descobre o seu "segredo", e passa a chantageá-lo para conseguir um encontro com uma das amigas de Simon.
Apesar do plot parecer apenas mais um drama sobre a vida de um adolescente comum, o livro aborda muitas questões. O primeiro amor homossexual e misterioso de Simon. Somos rapidamente cativados por essa jornada amorosa. Também aborda as pressões sociais que um jovem sofre por causa dessa agenda hétero, a qual obriga os gays a se reprimirem totalmente por medo da retaliação que vão sofrer, caso revelem sua orientação. E a chantagem que Simon sofre é só uma ponta desse imenso iceberg. O mundo é culturalmente hétero. E ainda existem grandes muros para serem derrubados para que as pessoas sejam tratadas de forma igualitária.
O livro é eficaz em mostrar as dificuldades que os jovens LGBT sofrem dentro de suas próprias casas para se assumirem como homossexuais. Nós sempre ficamos sabendo de casos bastante dolorosos, principalmente em lares muito religiosos, onde os pais nem sempre possuem uma mentalidade compreensiva. E, além de tudo isso, Becky Albertalli apresenta uma reflexão sociocultural sobre a forte segregação que existe na Geórgia, onde a população negra ainda está confinada a viver em regiões mais distantes das cidades, reflexo do racismo intrincado nos estados sulinos, os quais abandonaram a escravidão de forma tardia.
A autora do livro usou sua experiência como psicóloga e, depois de atender vários casos de jovens que estavam enfrentando essas dificuldades com sua orientação sexual, ela resolvera escrever um livro sobre o assunto. Becky não trabalha mais com psicologia desde 2012. Ela parou de clinicar após o nascimento de um dos seus filhos e decidiu se dedicar para a literatura. Com amor, Simon é o seu primeiro livro e ela recebeu o prêmio William C. Morris de melhor livro de estreia para jovens de 2015.
Super indico esse livro e fiquei muito feliz que ele tenha entrado na lista do clube de leitura, pois talvez não tivesse lido-o de forma espontânea, pois é uma publicação dedicada ao público "adolescente". E aconselho você que gosta de literatura a se despir de preconceitos e apostar em Com amor, Simon.
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